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Mac in Touch #87 - WWE Wrestlemania XXX - combate-a-combate (parte II)


Sejam bem-vindos a mais um Mac in Touch, este que remata a análise à edição número 30 do maior evento de wrestling.

Fiquei bastante satisfeito com a vossa adesão nos últimos artigos, especialmente naquele em que me foquei no final do combate entre Undertaker e Brock Lesnar, no qual chegàmos às três dezenas de participações! Algo que vem comprovar a época alta do nosso ramo e  impacto desse combate nas nossas vidas enquanto fãs de wrestling....

Tentei dar algum espaço entre os artigos para que vocês não ficassem saturados de ver os "Mac in Touch" a ser publicados, e de forma a dar alguma liberdade para que houvesse mais posts no blogue para além dos meus artigos de opinião.

Esta última parte da análise à Wrestlemania XXX contém a análise aos combates da parte final do evento, começando pelo duelo intenso entre John Cena e Bray Wyatt e terminando num Main Event digno desse nome. Também classifiquei a Wrestlemania, no geral, e teve a maior nota de sempre em eventos analisados neste espaço.

Está tudo aqui em baixo:


John Cena vs Bray Wyatt

Na minha opinião, este é o combate mais bem construído do card da Wrestlemania. Começou tudo na Royal Rumble, com a família Wyatt a interromper Cena no seu combate contra Randy Orton e a “custar-lhe” o título unificado da WWE. Aí começou a rivalidade, “adormecida” até à Elimination Chamber. Depois disto, temos visto promos absolutamente fantásticas protagonizadas por Bray Wyatt e ideias brilhantes dos criativos da WWE (e não estou a ser irónico) que chegaram ao ponto de provocar o impensável: uma reação unânime a John Cena.

Refiro-me, obviamente, ao que se passou na última RAW, com Cena a aparecer entre os Wyatt’s, após a luz se apagar, com a máscara de uma cabra depois de ter vindo a ser torturado física (chegou a ser amarrado às cordas do ringue) e psicologicamente (com as promos de Bray Wyatt).

A premissa é simples: Os Wyatts, membros de uma minoria tentam lutar por afirmação que lhe é negada pelo “sistema”. Sentem-se excluídos, e vinham a atacar, estratégicamente, alguns lutadores de topo... até chegarem ao “cabecilha” desse sistema, John Cena. Atacam, finalmente, uma das raízes do seu problema.

A batalha entre os dois é isso. Um duelo entre um renegado e um estabelecido. O colidir entre a minoria e o sistema, o pessoal e o “comercial”. Acima de tudo, o anti-herói e o seu ... oposto.

O combate todo, em especial a psicologia de ringue, beneficiariam sempre da história e do contexto em que se realizaria...

... ainda para mais depois de uma entrada absolutamente arrepiante da parte de Bray Wyatt, acompanhada pela performance, ao vivo, da sua música, interpretetada e tocada por gente mascarada de busardos. Para além disto, verificou-se uma confrontação pré-combate em consonância com a intensidade e o drama que vinha, até então a ser emprestado à storyline e que contribuiu para potenciar ainda mais a psicologia de ringue.

Esta esteve, ainda, em evidência, pela suprema interpretação da personagem que ambos os lutadores levaram a cabo, estando em consonância com o que já se havia registado. Só foi pena a fase inicial do combate não ter tido mais espetacularidade, o que provocou um certo desinteresse da parte do público... mas isso mudaria a partir do momento em que Wyatt reagiria a um início de um Five Knuckle Shuffle com o recurso à posição de “Spider” a que se seguiu um momento absolutamente arrepiante, com Wyatt a “orquestrar” milhares de pessoas que cantavam “He’s got the whole world in his hands”.

Depois disto, houve alguns spots que marcaram o resto do combate e que, a meu ver, foram geridos de forma fantástica, com destaque maior para o “dive” que Cena fez do topo das cordas para fora do ringue. Foi algo absolutamente fantástico, por ser inesperado e ter sido introduzido de forma lógica.

Também o Spear de Cena em Harper merece referência especial, assim como a forma como Wyatt escapou ao AA e capacidade de Cena resistir ao Sister’s Abigail.

Em termos de storytelling, o combate foi encadeado de forma sublime, principalmente por estar em consonância com o que era esperado, à partida para o mesmo, e tendo em conta o que se passara antes: um Cena completamente fora de si no que à bravura diz respeito, temendo o seu oponente, como só acontecera por raras vezes na sua carreira, e um Bray Wyatt empenhado em destruir a figura central do “comercial”, o herói das massas.

Em termos de wrestling praticado, aceita-se a agressividade com que Cena abordou o combate e até o seu ímpeto inicial, tal como a forma como Wyatt conseguiu tomar o domínio da contenda – através de jogos psicológicos, jogando com o medo do seu adversário.

Quando Cena voltou a tomar o controlo, teve a oportunidade de sair do combate com uma derrota mas com a satisfação de ter derrotado o seu maior medo... mas demonstrou a toda a gente que não é o tal monstro que Wyatt alegava que ele fôsse, e esse foi um aspeto marcante do combate por se ter repetido mais tarde, com o chefe da família Wyatt a oferecer uma cadeira a Cena.

O final do combate aceita-se pelo excesso de confiança exibido por Bray Wyatt, apesar de ter acontecido de forma algo repentina.

O entrosamento entre os dois lutadores podia ser melhor, mas parece que estiveram sempre em sintonia com o que havia de ser feito, e até ficaram demonstradas melhorias significativas no aspeto técnico da forma de lutar de John Cena.


Total: **** 1/4


 Undertaker vs Brock Lesnar

O marco do Undertaker, de 21-0 em Wrestlemanias, é das poucas coisas que aproximam o wrestling a um desporto “normal” visto ser um dado estatístico verdadeiro e que é transcendente a várias gerações.

Seria sempre mais por isto do que propriamente pela construção desta storyline que as pessoas iriam aderir a este combate e conferir-lhe o “Big Fight Feel” que tanto merece. A isto acresce a popularidade de Brock Lesnar e a curiosidade em ver um combate menos técnico, um duelo entre um brawler puro (‘Taker) e um poço de agressividade e força tal que faz dele uma das estrelas mais credíveis da indústria...

... aliás, arrisco-me a dizer que estes dois senhores estão entre o top 5 dos lutadores no ativo mais respeitados do wrestling profissional.

Posto isto, e o facto de estarmos numa Wrestlemania, a psicologia de ringue começaria sempre beneficiada à partida para este combate.

Em termos de storytelling, o combate começou bem. A adoção de uma postura agressiva por parte de Brock Lesnar era algo que este precisava de fazer para tentar contrariar o favoritismo. Fê-lo, mas cedo foi contra-atacado, registando-se uma troca de domínios sucessivas até este ficar estabelecido na “besta”, havendo a particularidade de os processos ofensivos de cada lutador serem, a maior parte das vezes, focados numa parte do corpo do oponente, algo que, para quem gosta de ver racionalidade no wrestling profissional, cai sempre bem. E estes dois senhores sao mestres em aproximar o nosso desporto em algo “real”.

Aceita-se com facilidade a forma como ambos os lutadores escaparam das manobras de submissão com que foram castigados pelo seu adversário, dada a competitivdade de Brock Lesnar e o legado de Undertaker. Ambos teriam de ser levados ao limite para serem derrotados, e assim aconteceu, pelo que há muito poucas falhas a apontar no que concerne ao encadeamento lógico do combate.

A psicologia de ringue foi algo prejudicada pelo facto de o combate ter sido conduzido num ritmo lento por ambos os lutadores. Privilegiou-se a lógica em detrimento da espetacularidade, o que nem sempre é uma coisa má, apesar de desviar um bocadinho a atenção do público.

Isso, e o facto de o público considerar Undertaker como megafavorito, concebendo uma putativa vitória de Lesnar como uma coisa quase impossível de acontecer, contribuiram para que a reação do público fosse pouco ruidosa no desenrolar do combate...

... embora isso tenha sido atenuado por momentos fantásticos como: o Old School transformado em F-5, o Last Ride em desespero após sofrer vários murros seguido de um Tombstone Piledriver... e o F-5 que significou um ponto final na streak lendária de Undertaker.

O entrosamento entre ambos foi notável. Estes são dois lutadores... ou melhor, dois homens que se conhecem como ninguém dentro do ringue, pelo que cada mudança de domínio, cada manobra mais complexa era executada com uma fluídez que parecia impossível dado o tamanho de cada um.

O final foi histórico. Bonito ou não, o facto é que foi histórico e isso tem de ser levado em conta na classificação do mesmo.



Combate pelo título das DivasAJ Lee (c) vs Treze divas da WWE

Vickie Guerrero bem tramou AJ Lee ao colocar-lhe pela frente 13 obstáculos à sua frente para a retenção do título. A nova menina dos olhos dos fãs da WWE tem, agora, pela frente várias adversárias que há muito lhe desejam tirar o título não só pelo aspeto competitivo, mas também pessoal (nomeadamente o “cast” das Total Divas) e há ainda Tamina Snuka, “guarda-costas” de AJ, que tem estado sempre ao lado dela e que será mais uma oponente nesta batalha.

Posto isto, e havendo tanta mulher no ringue, terá de haver atenção ao que se desenrola no ringue. Assim, seria de esperar uma reação maior do que a normal a um combate de Divas num PPV... embora se corresse sempre o risco desse entusiasmo esmorecer pela previsível “trapalhice” que um combate com tanta gente pudesse provocar...

... e nesse aspeto, aquilo que seria de esperar verificou-se. Não houve nenhuma desilusão nesse sentido, havendo mesmo muito pouco para falar acerca do storytelling, da lógica deste combate.

Em termos de psicologia de ringue, houve muitos olhos masculinos a olhar para o ringue, mas a maior parte deles ainda estavam focados na perda da streak, pelo que até aí este combate perdeu o seu brilho.

Nada a dizer relativamente ao final da contenda.


Total: Abaixo de *


Combate pelo título unificado da WWE
Randy Orton (c) vs Batista vs Daniel Bryan

Penso que não preciso de gastar muita “tinta eletrónica” com o que é que este combate significava e quanto é que a psicologia de ringue beneficiava – era o main event da Wrestlemania e Daniel Bryan estava lá.

Só a derrota de Undertaker e o facto de ser o último combate de um show de quase 5 horas (pré-show incluído) poderia condicionar o combate em termos de atenção e adesão do público... mas, como se verificou no final, não houve falta disso.

Na prespetiva do storytelling, o combate começou bem, com Daniel Bryan, invariavelmente o elo mais fraco por estar desgastado do combate que disputou no início da noite a ficar fora da equação, após bom trabalho de equipa levado a cabo por Batista e Randy Orton. O Mr. Yes conseguiu levantar-se e esboçar uma reação, o que, dado o tempo de espera até isto acontecer, foi credível. Os seus adversários puseram-no para baixo, e foi Orton que assumium, temporariamente, o comando do duelo, mas cedo Bryan conseguiu sobrepôr-se e aí surgiu a primeira falha do combate em termos lógicos, pelo facto de não ser credível ser ele a assumir, dentro dos primeiros 10 minutos do combate, o domínio de uma contenda onde estão envolvidos lutadores muito mais frescos que ele... mas isso viria a parar, com a entrada da autoridade estabelecida, o que no aspeto da psicologia de ringue foi excelente pelo drama que emprestou à contenda, principalmente pela entrada de Scott Armstrong, àrbitro que prejudicou a honra de Daniel Bryan no passado e por todo o simbolismo que representou o ataque de Daniel Bryan, com a marreta (objeto cénico de Triple H) ao seu patrão.

Toda a energia de Bryan viria a esgotar-se, quando Batista reagiu e o atacou, voltando ao domínio repartido com Orton de forma a eliminar Bryan do combate, usando os degraus de acesso ao ringue e um spot absolutamente espetacular, que muito provavelmente vai figurar em muitos vídeos dos melhores momentos da Wrestlemania, quando Batista aplicou uma Batista Bomb e Randy Orton aplicou o RKO... através da mesa dos comentadores! A isto seguiu-se um momento dramático, gerando-se a dúvida sobre a condição física de Daniel Bryan, julgando-se mesmo que este seria afastado do combate, e outro momento ridículo, com Batista a ficar especado, em pé, à espera que Orton se levantasse para o atacar, em vez de aproveitar uma oportunidade única para vencer o combate, dando ao “Viper”o domínio do combate, que aproveitou para fustigar, ainda mais, Daniel Bryan após se ter livrado da pressão de Batista.

Seguiram-se momentos de suspense, sendo o mais marcante aquele em que Orton aplicou um RKO em Batista após este ter “apagado” Daniel Bryan com um Spear. Esse momento deixou muita gente com o “credo” na boca pelo facto de Bryan poder vir a não ganhar o combate conforme desejado... e com razão de ser, visto ter sido aplicado o finisher de Orton em Batista e o facto de Bryan ter quase saído do ringue com o Spear. A forma como Batista se levantou também foi credível visto a sua resiliência e o facto de não ter sofrido assim tanto dano para sucumbir ao RKO (isto é, poderia estar mais castigado).

A emoção não parou, e a psicologia de ringue, a esta altura, estava ao rubro. Com Batista quase a aproveitar o finisher de Bryan para fazer o pin a Orton - não conseguido-  a que se sucedeu o regresso de Bryan com outra joelhada, desta vez em Batista (credivelmente introduzida, pelo facto de Bryan não ter sofrido nenhuma manobra com especial efeito danoso por parte do seu adversário), seguido de um Crossface que “fechou” (locked) as portas às dúvidas que pudessem subsistir relativamente ao início da Yes Era.

Final dos grandes, num combate dos grandes. Emoção até ao fim, psicologia de ringue nos píncaros. Momentos inesquecíveis, marcantes do início de uma nova época.

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