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Slobber Knocker #96: Rescaldo da Wrestlemania XXX


Já faz um par de semanas, espero que não seja o suficiente para se terem esquecido de mim, mas... Sejam bem-vindos ao desaparecido Slobber Knocker! Tive um par de semanas bastante atribuladas e cansativas que nem pude dispensar tempo à minha escrita e até o wrestling acumulei. Com esse tempo de más experiências de trabalho e reposição de sono em dia, consegui endireitar tudo a tempo da Wrestlemania....

Já tinha preparado um artigo sobre como souberam tapar buracos e safar-se ao bookar a Wrestlemania XXX e já previa a habitual antevisão do maior evento do ano a sair no Sábado anterior. Não foi possível, regresso directamente com a minha análise da Wrestlemania XXX. E com o regresso, fica o meu pedido de desculpas pela ausência e veremos se consigo manter o ritmo outra vez.

Avancemos então para o que interessa, que é a Wrestlemania XXX em si. Cheia de grandes momentos, choques que nunca serão igualados, bons combates e um ambiente de fazer querer estar lá. Com tanta emoção à mistura, foi um evento que realmente soube à Wrestlemania. Especificarei mais o meu sentimento em relação ao evento no final e, para já, olho para os combates um por um:

The Usos derrotam os Real Americans (Cesaro & Jack Swagger), RybAxel (Ryback & Curtis Axel) e Los Matadores num Fatal 4-Way Elimination Tag Team pelos WWE Tag Team Championships e retêm os títulos


Um exemplo de um combate cheio de gente que prova aquele esforço em consertar o problema que lhes encheu as mãos no início da Road to Wrestlemania e que eu ia abordar aqui no Slobber Knocker há duas semanas atrás: tinham pouco espaço no card para muita gente. Souberam o que fazer para colocar o maior número de Superstars possível no card e pelos títulos de equipas foi logo um arraial de quatro equipas.

Ficou para o pré-show, o que pode parecer mau para a divisão tag team, mas olhando para a qualidade do combate, acho que não quiseram utilizar o rótulo "pré-show" como algo que viesse a retirar qualidade a qualquer coisa - como aconteceu no ano passado no paupérrimo encontro entre Miz e Wade Barrett. Souberam muito bem como pegar num combate que seria "para aquecer" e fazer algo já quente. Só foi preciso ver os Matadores a ser eliminados para perceber que o combate seguia regras de eliminação. Não sei se era eu que estava desatento ou se eles estavam desatentos quanto a isso. Mas ainda bem, assim dava mais tempo para mais artimanhas, mais storytelling, dava para reduzir a duas equipas frente a frente e, especialmente aquelas duas equipas que dividiam o público nas previsões dos vencedores.

Ao longo do combate, ficaram-nos guardadas algumas coisa: Cesaro já está mais que estabelecido como um senhor e já é dos Faces mais over no plantel, mesmo antes de completar a sua Face Turn definitivamente. Era o "MVP" daquele combate para o público e soube manter-se dominante e notável ao longo do combate para provar essa sua posição de favorito dos fãs; El Torito pode mesmo fazer o que quiser, interferir quanto quiser e ter contacto com quem quiser, que nada acontece, não há desqualificações para anões vestidos de touro; Ou foi dos prendicalhos que levavam à cintura que os fazia parecer umas meninas Havaianas ou apenas o nervosismo do clima de Wrestlemania, mas um dos Usos desconcentrou-se e atirou-se de cabeça ao chão. Até a mim me doeu.

A ordem de eliminações foi a ordem de preferência ou de aposta para os vencedores. Ficaram os Campeões frente a frente com os Real Americans e talvez já fosse previsível o pós-combate. Spots anteriores e aqueles momentos mais perto do final fizeram do combate de abertura um encontro já bastante entusiasmante e já puxaram cantos de "This is awesome!" de uma plateia que viria a fazer muito barulho e a demonstrar-se das boas - é claro que no dia seguinte é que elas se davam como já tem vindo a ser tradição há muito tempo. Os Usos venceram com um belo splash duplo, perfeito para a fotografia. O problema: foi em Cesaro, logo a plateia não festejou tanto quanto devia. Saíram fortes e com uma boa vitória, enquanto os Real Americans, como protagonistas das outras duas eliminações, também saíam bem vistos. Mas... Problemas já a chegar.

O que se esperava, Swagger a cair em Cesaro e a ir longe ao ponto de o prender no Patriot Lock. 80% da Face Turn de Cesaro concluída. Zeb Colter volta a tentar a sua sorte na emenda da dupla, mas Cesaro responde ao aperto de mão com o tão esperado swing. 100% concluída a Face Turn de Cesaro. Agora só precisava de um grande momento definidor da sua carreira. Será que tínhamos que esperar muito tempo?

Daniel Bryan derrota Triple H e apura-se na Triple Threat pelo WWE World Heavyweight Championship do main event


Ficou guardado logo para o início, para dar bastante tempo entre um combate e outro. Este era o combate que, mesmo que já estivessemos fartos de saber o resultado, ainda tínhamos algum medo. O facto da piada do corredor e palco da arena fazer a forma de uma pá perdia uma fatia da sua piada quando nos lembramos do que é que a pá representa. Mas esta era uma situação daquelas em que a pá tinha que ficar guardado debaixo do colchão de Triple H, ao lado do seu saco de ouro, tal como ele afirmou a um fã no Twitter. Aqui estava a culminação de uma longa história que começou no passado mês de Agosto, no SummerSlam.

A estipulação de que o vencedor constaria no main event mais tarde e salvar, digo, juntar-se a Randy Orton e Batista só nos dizia ainda mais o resultado. Triple H não é burro nenhum e, por muito que lhe custe, sabe que o público não dava nada por vê-lo no main event a juntar-se aos seus ex-parceiros nos Evolution. O secume que se antevia no main event com aquela dupla não seria resolvido com a presença dele. Era Daniel Bryan que poderia salvar aquilo e eles sabiam-no. E nada melhor para o Raw da noite seguinte do que um Triple H com uma cachola maior que o seu próprio nariz.

Assim decorreu, começando por equilibrar a acção e mostrando Daniel Bryan como vulnerável - a sua recente lesão no ombro. Tudo camadas para uma tremenda vitória de underdog que se daria mais tarde. Já aqui víamos: nem fazia sentido estar a gastar tanto Daniel Bryan se não estivessem a preparar alguma mais tarde. Mas lá está, já o sabíamos de qualquer maneira. Stephanie McMahon ao lado foi a cereja no topo do bolo - ela acaba por sê-lo em qualquer situação em que se insere - num combate que viu ambos Superstars arriscar muito e deixar muito de si em ringue para uma vitória que valia muito para ambos.

Após o desenvolvimento progressivo, sem necessitar de saltar para um spotfest dos diabos, chegou à altura da sobrevivência a todo custo e Daniel Bryan conseguiu resistir a um Pedigree. Mais um tijolo para a parede de obstáculos que Triple H colocara à frente do antigamente conhecido como o American Dragon e que este conseguiu sempre superar para ganhar algum do seu respeito - à força e puxado por um gancho mas teve que ser. Após mais algumas inversões e quando parecia que o COO ia fechar o "negócio" de vez, Bryan consegue sair por cima e enterrar-lhe um joelho no já aqui mencionado nariz para o deixar a dormir para a contagem de três. Podiam todos respirar de alívio, pois o resultado que já todos sabiam que não ia falhar se concretizou. Daniel Bryan fazia parte da Triple Threat pelo WWE World Heavyweight Championship, mais tarde no main event desta mesma grandiosa Wrestlemania.

Mas a porrada que já tinha levado não era suficiente e já sabíamos que sair deste combate a celebrar não era suficiente e o desgaste físico ainda não chegava. Stephanie volta a cumprir o seu papel e retoma a sua tradição de desatar ao estalo até que Triple H deixe a sua marca e deixe Bryan ainda mais "fraco" para mais tarde. Se é que podia competir sequer - outra coisa que já sabíamos. Triple H não pode sair tão por baixo e não seria a últim vez que o víamos, claro...

The Shield (Dean Ambrose, Roman Reigns e Seth Rollins) derrotam Kane e os New Age Outlaws (Road Dogg e Billy Gunn)


É bom que não tenham pestanejado. Em 3 minutos, os jovens do presente/futuro squasharam os veteranos que lhes causaram problemas há algumas semanas atrás no Smackdown. Foi curto e grosso e mal deu para apreciar a bela trancinha do Billy Gunn - contem lá os homens de 50 anos que conhecem que andem de tranças.

Se isto parece um desperdício de Shield na Wrestlemania, lembrem-se que isto pode ter um objectivo. O trio está ainda a instalar-se em solo Face - apesar de já ter apoio dos fãs há muito tempo - e andam do "lado bom" há pouco tempo. Por cima disso, o ataque que deu origem à feud em questão deixou o grupo a parecer algo vulnerável. O que se aprendeu neste combate: vulnerável, o tanas.

Em 3 minutos trataram da tosse ao grupo veterano que achava que já lhes tinha o número, fê-lo com estilo e com uma belíssima... Triple Powerbomb dupla?! O que seja, foi lindo de se ver, deu-lhes um "Wrestlemania moment" e mostrou-os mais dominantes que nunca, seja a Face ou Heel. Shield é sempre Shield. Depois disto, o que se espera é que venham a ter algum papel importante em alguma história de alto relevo... Já todos vimos o Raw, não já? Então que se adiem os planos de desintegrar o grupo e que se aprecie enquanto os Shield ainda tiverem algo/muito para dar...

Cesaro vence a 31-Man Battle Royal pelo troféu de memória a Andre the Giant


Este tem que ser um dos maiores momentos da noite. Uma 30-Man Battle Royal que, ao fim se tornou uma 31-Man Battle Royal, por razões que ainda estou por descobrir. A forma inteligente que conseguiram de dar trabalho na Wrestlemania a uma larga fatia dos seus empregados e colocaram quase toda a malta no ringue - e eu à espera do lendário JTG. Yoshi Tatsu estava presente - e foi o primeiro a ir. Lembraram-se de Tyson Kidd. E até saltei quando vi o David Otunga porque até me ia esquecendo que o homem ainda é vivo!

Não foi dos combates mais imprevisíveis no seu decorrer e seguiu da forma normal que uma Battle Royal com 31 homens dentro de um ringue poderia funcionar. Os jobbers vão primeiro. Os midcarders têm os seus momentos. E os favoritos a vencedores ficam para o fim. Quem é que não podia deixar de ter o seu momento? Kofi Kingston, claro. Em mais um spot para seguir a tradição que, até agora, se mantinha na Royal Rumble, já teve que dar uso ao seu atletismo para se safar. A parte interessante? O spot correu mal. Mas fez com que corresse ainda melhor. Após voar para os degraus do ringue, desequilibrou-se e caiu fora, mas com o cuidado de não tocar com os pés no chão para contar a eliminação. O que apenas tornou tudo mais interessante e emocionante. Conseguiu voltar aos degraus e voltar ao ringue e ficar "on fire" a distribuir "Trouble in Paradise" a tudo o que era ser vivo.

Claro que, tirando o Booker T, ninguém acreditava que ele fosse ganhar, mas ficou com o seu momento e nada melhor que a Wrestlemania para protagonizar um destes. Para o fim ficam os favoritos e Cesaro que, honestamente, acho que não era o único que nem sabia que ele fazia parte - na minha ideia o 31º homem ainda era o David Otunga. Sheamus e Alberto Del Rio tiveram aquele clássico spot de "luta tão intensa que até viramos os dois", que colocou os dois lá fora e deixou o vendido como favorito Big Show e Cesaro a sós. Depois dá-se o momento Wrestlemania que, por mim, seria um dos mais reproduzidos desta era, no futuro. Cesaro levanta Big Show como se fosse um menino e atira-o para o exterior, vencendo a Battle Royal para euforia do público. E de mim mesmo.

E agora pensamos. Big Show a vencedor seria previsível e lógico demais. Logo, em vez disso, optaram por algo surpreendente mas que também seja lógico. A vitória de Big Show seria um paralelismo directo com o próprio Andre the Giant. Mas fizeram um paralelismo ainda melhor. Wrestlemania III, um dos momentos mais icónicos e lendários na história do wrestling: Hulk Hogan levanta o invicto gigante e consegue aplicar-lhe um powerslam para obter a vitória. Ficou para sempre e Hogan, homem por trás deste combate e anfitrião da Wrestlemania XXX muito fez questão de lembrar esse episódio. Então porque não pegar num Superstar fresco em ascensão que seja dos mais fortes ali dentro e reproduzir o momento com o tal Superstar que fazia paralelismo com Andre the Giant? Belo de se ver e o final perfeito para este combate. Dos momentos da noite e que ninguém pare o Cesaro, "King of Swing"...

John Cena derrota Bray Wyatt


Tinha expectativas altas para este combate. E posso dizer que foram correspondidas. O combate com mais psicologia em todo o evento e até dos que mais teve em bastante tempo. O senão: este combate seria o ideal para Wyatt vencer e Cena colocá-lo bastante over. Mas à medida que iamos vendo o progresso e a história do combate e o que estava a construir, começamos a perceber que o combate estava a ser feito para o Cena ganhar. Os constantes jogos mentais de Bray Wyatt a tentar sugar Cena para o lado negro já nos fazia antever que Cena não ia descair e que, mesmo com muita dificuldade, ia conseguir sair por cima numa de rés-vés, à pressa, não quero é ter nada a ver com aquele gajo assustador.

Também vimos Wyatt a puxar o seu lado mais agressivo, algo que desfavorece Cena, algo em que poderá capitalizar na continuação da feud. Logo, este combate foi escrito, não só para que o Cena vencesse aqui, mas também para que Bray Wyatt vença noutras circunstâncias no Extreme Rules. Mas foi um tremendo combate, Bray Wyatt foi a estrela e saiu por cima, mesmo perdendo, e um Cena vulnerável e assustado é um Cena interessante - ainda para mais quando tem que recorrer a um lado mais agressivo que não lhe costuma ser tão característico.

Os melhores momentos, como seria de esperar, foram protagonizados por Bray Wyatt e também espero que a imagem de evitar um Five Knuckle Shuffle com a sua belíssima ponte de causar pesadelos aos mais sensíveis - e aos restantes também, já agora - seja das mais reproduzidas no futuro, ao recordar a Wrestlemania XXX ou qualquer Wrestlemania destes anos. Bray Wyatt também demonstrou ser um lorde ao desempenhar a sua personagem, ao implorar a Cena que "acabasse com ele", expondo o Cena verdadeiro. As tais indicações de que Cena ia vencer. Chegou mesmo a ajoelhar-se e a provocá-lo com uma cadeira, mas o homem do "Hustle, Royalty & Respect" é mais forte que isso e apenas utilizou a cadeira onde podia: para se livrar de interferências exteriores que pudessem vir a estorvar.

Cena venceu de forma simples, com o Attitude Adjustment. Mas não foi fácil e Cena não saiu assim tão invencível como costuma ser. Ainda era um Cena perturbado e quebrado, possivelmente ainda a recuperar ou até ainda a sofrer de uma bela de uma violação mental e psicológica. Wyatt não saiu prejudicado, mas claro que uma vitória neste grande palco lhe ficava melhor. Mas a feud não fica por aqui e prevejo Cena a ser apanhado numa tremenda armadilha no Extreme Rules e a ficar por baixo - não marquem é combates "I Quit", porque isso é mau sinal... Ou então continuam numa de romper streaks...

Brock Lesnar derrota The Undertaker e acaba com a streak


Já passou quase uma semana desde que se deu este combate. Acho que já fechei a boca. Acho. Não devo ter ficado muito diferente de toda aquela boa gentinha que ali ficou especada e pasmada a olhar para a mão de Brock Lesnar a ser erguida. As palavras que todos pensávamos que nunca íamos dizer e que eu nunca pensava que iria escrever neste título que se vê aqui encima. Mas enquanto aquela terceira contagem para o pin ainda é repetida nas nossas cabeças, tornemos a dizer: acabou-se a streak. Deixou de haver um 0 ao lado do número de vitórias de Undertaker. Jamais estará invicto na Wrestlemania como sempre esteve.

É uma ideia difícil de absorver... Mas foi o único que fez com que ainda se falasse deste combate nos dias seguintes. E falou-se bastante. Undertaker e Brock Lesnar não formavam o par ideal para um grande combate e ninguém antecipava que este fosse ser um dos combates do ano, combate da noite, aquilo que Undertaker nos tem habituado estes últimos anos quando só volta para competir na Wrestlemania. Ia ficar como um combate fraco para estes últimos anos da streak e, sem sabermos como estará a saúde de Undertaker, nunca se sabe quando será a última. Então faz-se algo drástico: acaba-se a streak, deixam-se umas quantas pessoas com o coração na garganta e têm história feita.

O combate não foi mau, mas também não foi nada de especial. Teve alguma dificuldade em desenrolar com as limitações nas regras que obrigou Brock Lesnar a abrandar o seu estilo violento. E ainda bem, porque não vejo até que ponto é que Undertaker aguentaria um combate com regras extremas. A saúde de Undertaker também o limitou. E tinham uma história algo confusa a contar - o que ia contar era o final - pois não sabíamos qual dos dois tinha mais momentum. Mas ainda souberam equilibrar a acção e os momentos, vender o desgaste de Undertaker - que não foi lá muito falso, nem tem sido nos últimos anos - e deixar ambos bem perto da vitória. Múltiplos finishers - foram necessários 3 F5s para deter Undertaker - e até uma troca de Kamuras se fez. Quando vimos o terceiro F5 a ser aplicado, aconteceu qualquer coisa no estômago, segundos antes de congelarmos de vez. Brock Lesnar conseguia o pin em Undertaker e rompia a streak, para incredulidade até de Paul Heyman.


Os minutos seguintes foram simplesmente espectaculares, goste-se do resultado ou não. A música de Lesnar nem tocou, o que foi excelente pois serviu para demonstrar bem o choque da plateia e aquele silêncio foi tenebroso mas perfeito para a ocasião. As expressões dos membros do público apenas contribuiram para completar o clima mais que ideal para uma situação destas. Em muitos anos que não conseguiam algo tão chocante, já para não dizer na história. Estava escrito na história da Wrestlemania um capítulo inesquecível. No futuro vamos recordar-nos onde estávamos quando a streak de Undertaker na Wrestlemania chegou ao fim, sem que ninguém o esperasse. Resultado polémico - ou vencedor escolhido - à parte... Para mim, Wrestlemania é isto.

Um pormenor acerca deste resultado, que muitos já apontaram e que talvez tenha dado que pensar ao próprio Undertaker: este resultado foi extremamente realista. Já não tem sido fácil vender a ideia de que Undertaker, quase acabado, com um aspecto e saúde física já bastante envelhecidos, com dificuldade em manter uma carreira sem ser com um combate por ano, combate esse que o deixa sempre em estado crítico e o leva a um hospital... Ainda consegue derrotar Superstars fortes. Quando foi colocado frente a frente com um ex-Campeão da UFC, uma besta violenta e imparável... Seria difícil vender uma vitória sua como minimamente realista. E com isso, olhando para trás e recordando o combate, parece que compreendemos melhor a história do mesmo: Undertaker batalhava com Lesnar, com a sua própria carreira e consigo mesmo. Cada "kickout" que fazia o deixava próximo da "morte" e tinha os seus momentos em que se demonstrava frágil, a transmitir-nos a mensagem de que talvez já esteja a tentar esticar a "streak" para além das suas capacidades. Foi o que o impediu de sair por cima, que permitiu a Lesnar vencer e que deixou Undertaker no ringue a reflectir sobre a sua escolha de desafiar Lesnar. Mas nada disso anula o seu legado, a sua lenda, a sua streak que, mesmo após quebrada, ainda é a maior e nunca será superada... Daí que uma forte salva de aplausos e mensagens de agradecimento merecidíssimas regassem o "Dead Man" naquela que pode ter sido a sua despedida dos ringues. E, mais uma vez: custa a engolir, mas Wrestlemania é isto.

Ficou para a história uma impressionante streak de 21 vitórias na Wrestlemania consecutivas, algo que nunca ninguém alcançará. Quando for para o Hall of Fame - deve estar para breve - leva isso e muito mais. E agora também já sabemos quem é o homem que levará consigo para o Hall of Fame a distinção de ter rompido a tal streak. Brock Lesnar, mais jovem Campeão da WWE, de rápida ascensão, primeiro ex-WWE Superstar a tornar-se Campeão na UFC... Único homem a bater Undertaker na Wrestlemania. Deixemos as revoltas de parte e não pensemos tanto na escolha do homem para derrotar Undertaker - quando foi este mesmo que teve a palavra de escolha - e reajamos como os meros fãs que somos: com choque. A reacção pretendida e obtida. Da minha parte, sei que foi...


AJ Lee derrota Naomi, Aksana, Alicia Fox, Brie Bella, Nikki Bella, Cameron, Emma, Eva Marie, Layla, Natalya, Rosa Mendes, Summer Rae e Tamina Snuka num "Vickie Guerrero Invitational" de 14 Divas pelo Divas Championship e retém o título


É um título longo. Mas quis dar protagonismo a todas, já que este combate também fez parte da inteligente estratégia para bookar o máximo de empregados possível no card da Wrestlemania. No caso das Divas... Atirem-nas todas ao ringue, que não há gajo que se importe de as ver todas juntas.

A história principal do combate era que Tamina tinha uma chance pelo título e tinha aqui a sua oportunidade de se virar contra AJ Lee, para seu benefício. Isso e o facto da Campeã ter chances quase nulas, pois ela chamou-lhe e bem, o combate "AJ vs o mundo". E... Que ia ser um arraial de mulheres em ringue, a prometer tornar-se uma confusão tremenda. Mas o combate ficou prejudicado por um factor: o combate anterior e o que tinha acabado de acontecer. O clima ainda estava pesado e este combate foi o sacrificado para ser o que tinha menos atenção e que, aos poucos, ia distraindo o ainda chocado público. O combate das Divas ser escolhido para tal? Por essa é que não estava nada à espera.

Mas o raio do combate até nem foi mau. Também não foi nada de propriamente bom, mas foi o que foi e até se safou como o que devia ser. Até conseguiu evitar tornar-se uma confusão difícil de acompanhar com uma data de moças ao ringue, tudo ao molhe. Até se organizaram. E as mais nabiças até fizeram pouco para estorvar. Várias Divas tiveram direito ao seu momento, como Tamina que quase ia vendo a vitória a sorrir-lhe; Natalya a ameaçar um triplo Sharpshooter; as Bellas a trabalhar em conjunto até se verem obrigadas a virar-se uma à outra - e até nos brindaram com um duplo Suicide Dive, algo que não se vê muito em combates femininos. No final, AJ provou que ainda era superior a todas e venceu, mesmo que forjando um pouco o "tap out" de Naomi. Mas ficou provado que não há Diva naquele plantel que seja capaz de tirar o título a AJ. Só se viesse alguma nova... E já todos vimos o Raw...

O ambiente mantinha-se pesado, mas tinha que se espairecer porque vinha aí um combate de grande importância e o "MVP" de todo o card...

Daniel Bryan derrota Batista e Randy Orton numa Triple Threat pelo WWE World Heavyweight Championship e ganha o título


O main event. Com que disposição estava o público? Pronto a receber Daniel Bryan, o herói que já muito tinha batalhado e levado no lombo nessa noite, com uma ovação de respeito e braços a agitar-se em "Yes!". Já estava tudo no sítio então e tínhamos que avançar para o que importava: o main event, cujo desenrolar inicial já se previa. Batista e Randy Orton a unir-se e a trabalhar juntos para eliminar um indivíduo que, supostamente, nem está ao nível deles. Mas eles não chegavam e é claro que Triple H tinha que tornar a meter o nariz onde não era chamado - sim, este é o Slobber Knocker, edição "nariz do Triple H". Não adiantou nada. Bryan, mesmo não se encontrando a 100%, conseguiu sair por cima e livrar-se de Triple H e de um árbitro encrencado. Até a coitada da Stephanie levou por tabela e já teve que sair a mancar - não é que ela não merecesse, pelo menos um pouquinho.

Era altura para Orton e Batista continuarem a trabalhar juntos para eliminar a ameaça que, diziam eles, não era nada ameaçador. Spot do combate com um double team que incorporou a mesa de comentadores - os Mexicanos voltam a pagar as favas, nem a mesa nova dos Franceses serviu para lhes dar um descanso - um Batista Bomb e um RKO - mesmo que ao contrário - e que arrumou, aparentemente, Daniel Bryan do combate. Concretizou-se o sonho de todos os fãs e ficaram Batista e Randy Orton a disputar o combate e o título entre eles, porque era exactamente isso que todos queriam.

Assim tentaram, enquanto Bryan era carregado para fora na maca. Mas esta parte também nós já a previamos. Bryan não é menino de ficar a dormir e apanhar boleia para o backstage. Que se lixem os médicos e a maca que ele tem um combate para acabar e um título duplo para ganhar! Aproximavam-se os enervantes momentos próximos do final que arrastam o espectador para a beira do assento e aquele medo de vermos o Batista a sair por cima. Brincaram bem com isso e brincaram bem com a alternância dos potenciais vencedores. Já tinha havido uma joelhada para cada um, mas ainda nenhum tinha sofrido a prisão de um Yes Lock. Teve que ser o actual predilecto de todo o povo. Batista encontra-se preso no Yes Lock, tenta batalhar mas não resiste e desiste para saltos e regozijos do público - e pronto, é claro que vou admitir, de mim próprio - quando respirávamos de alívio ao ver que Daniel Bryan acabava de se tornar Campeão, num combate - série de combates - que o colocou over como um verdadeiro underdog heróico.

Uma longa e merecida celebração para o homem que fechava a sualonga e dura jornada atrás do seu merecido lugar no topo. O lutador que veio provar de vez que há lugar para os gajos pequenos das independentes que estejam repletos de talento no cimo da WWE. Foi bom vê-lo a ser tão apoiado pelos oficiais que lhe deram este papel heróico, demonstrando que finalmente estão do nosso lado e já compreendem o valor de lutadores destes. Foi bom ver que o Superstar que há dois anos atrás estava a perder num vergonhoso combate de 18 segundos no mesmo palco já se pôde redimir e conquistar o principal e mais prestigioso título da companhia no fecho do mesmo evento. Foi bom ver uma celebração tão emocionante de um lutador verdadeiramente comovido, de uma forma que apenas pode ser comparada - mas não igualada - à de Eddie Guerrero e Chris Benoit na Wrestlemania XX. Numa situação completamente diferente da que já disse, volto a dizê-lo: para mim, a Wrestlemania é isto.


Bons combates, grandes momentos inesquecíveis, momentos chocantes que ainda nos serão repetidos na cabeça por muito tempo, a formação de estrelas e a continuação do crescimento de outras. Segmentos que não esmiucei mas que mostraram a grandeza da edição número 30 deste evento, reunindo 3 lendas incontornáveis da história da Wrestlemania - Hulk Hogan, Steve Austin e The Rock já redimido com os fãs, julgando pela boa reacção. Eu markava mais se ele viesse com a peruca do Hércules. Lendas no backstage a fornecer-nos entretenimento genuíno e até um Roddy Piper a parecer racista fora de contexto tivemos - admito que me ri nessa parte pelas razões erradas. Uma estupenda plateia que reagiu lindamente a cada um dos momentos e que, até os próprios, conseguiram o seu lugar na história. Algo que tenha dado motivo para falar nos dias seguintes. Arrisco a dizê-lo da forma mais curta e grossa possível: a Wrestlemania XXX foi a mais completa e mais recheada de diferentes emoções em muitos anos. Isto para não dizer que foi a melhor Wrestlemania em muito tempo. E ainda tivemos um Raw 5 estrelas no dia seguintes.


Sei que há opiniões diferentes e é para isso que há aqui embaixo uma caixa de comentários. Mas tenho dito, que não tenho grande queixa sobre esta Wrestlemania. O que incomodou muitos a mim apenas me chocou e é com essa reacção que fico e que prefiro ficar - e que melhor se adequa. Tivesse eu as emoções todas a batalhar no estômago por esta altura no ano passado, na Wrestlemania XXIX ou em alguma das anteriores - que não foram más, até pelo contrário. Por mim, correspondeu às expectativas que tão fortemente vendiam.
E por aqui me fico, terão a vossa diferente opinião do evento e têm a respeitosa permissão para a manifestar aqui embaixo. Por agora retiro-me e, creio já ter todas as condições para voltar na próxima semana. Até lá fiquem bem e paz á alma do lendário e inesquecível Ultimate Warrior.

Cumprimentos,
Chris JRM
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