Dias is That Damn Good #190 – "Dave Meltzer e os Dirt Sheets"
Boas Pessoal!
Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn
Good", o espaço com mais história na nossa CWO ;)
Com a explosão do Pro Wrestling enquanto indústria e
negócio de entretenimento e a sua transformação num fenómeno de
massas à escala global, o aparecimento de diversos jornais, revistas
e blogues, cujo tema se centra nos mais variados aspectos da
modalidade, deu-se de forma bastante natural e quase incontrolável.
Por consequência, muitos daqueles que estavam à frente das
administrações e/ou redacções desses mesmos "dirt sheets"
de maior repercussão (de entre os quais podemos destacar,
claramente, Dave Meltzer), ganharam alguma visibilidade e
notoriedade, passando as sua palavras e escritos a exercer uma clara
influência perante muitos fãs, inúmeros wrestlers e, inclusive,
alguns promotores.
Neste sentido, se a existência deste tipo de "órgãos
de comunicação" afectos ao Pro Wrestling são de salutar e
assumem um papel importante na difusão do próprio business, por
outro lado, o modo completamente desregulamentado como funcionam e o
facto de não terem de prestar contas e/ou provas do que afirmam a
ninguém, leva muitas vezes à criação de situações e ambientes
menos positivos e pouco esclarecedores em redor da modalidade. A este
respeito colocam-se então várias questões: Qual o papel e
influência dos "Dirt Sheets"?! Quais as responsabilidades
dos "Dirt Sheets" para com o Pro Wrestling e os seus
actores?! Que alterações ao nível dos conteúdos e produto são
forçadas pelos "Dirt Sheets?! De que forma os "Dirt
Sheets" moldam e transformam o pensamento e relacionamento dos
fãs para com a indústria?! Enfim...um vasto conjunto de
interrogações às quais, ao longo do presente texto, procurarei dar
resposta.
Não percam, portanto, as próximas linhas...
Como acontece com qualquer fenómeno de massas ou
actividade que exerça um grande fascínio sobre uma vasta quantidade
de gentes, os "órgãos de comunicação" que se criam em
seu redor nascem não só pelo entusiasmo que esses eventos geram nos
seus adeptos e seguidores, e pela necessidade que os mesmos sentem de
dar a conhecer as suas reflexões e comentários, mas, também, pela
exigência de manter informadas as pessoas que os assistem e que
procuram de forma incessante mais e maior conhecimento acerca de algo
que, de facto, as maravilha. Por outro lado, se é verdade que estes
"órgão de comunicação" apenas nascem devido à dimensão
e mediatismo que determinados fenómenos atingem, não é menos
verossímel que eles dão uma contribuição fundamental para que as
actividades em que se focam possam atingir públicos maiores e mais
amplos. Ora, neste caso, o Pro Wrestling não foge à regra. Enquanto
indústria de Sports Entertainment e business que cresceu
exponencialmente ao longo dos anos até atingir uma dimensão global,
a modalidade também deu origem ao aparecimento dos seus próprios
órgãos de comunicação que, por sua vez, muito contribuíram para
o seu desenvolvimento e disseminação. Neste sentido, os "Dirt
Sheets" (nome utilizado no vocabulário do Pro Wrestling para
classificar os seus órgãos de comunicação) passaram a desempenhar
um papel e função importantíssimos para a modalidade, informando
de uma forma mais regular e menos encapotada os seus seguidores,
espectadores e adeptos, e divulgando os mais diversos eventos,
programas e ppvs das suas promotoras. Por consequência, os "Dirt
Sheets" pelo seu alcance, proximidade e facilidade de acesso
junto dos fãs, começaram a deter uma tremenda influência na
indústria, especialmente, no seio de grande parte dos seus adeptos e
seguidores mas, também, junto de muitos wrestlers, todos eles,
claramente, condicionados pelo tipo de informações e reflexões
neles contidos.
Por outro lado, as novas tecnologias, a internet e as
redes sociais favoreceram a abertura deste tipo de actividade a
qualquer pessoa, deixando de importar o conhecimento ou formação
que a mesma possui e o modo mais ou menos profissional com que expõe
os seus conteúdos. Deste modo, a generalização dos "Dirt
Sheets" levou a uma desregulamentação total da sua actividade.
Aos jornalistas, embora muitos não o cumpram, ainda se faz uma
exigência e pressão no sentido de respeitarem o seu código
deontológico, no entanto, com a disseminação de "dirt sheets"
que se verificou, tornou-se impossível condicionar ou limitar
quaisquer conteúdos apresentados, ficando o maior ou menor respeito
para com as promotoras e seus workers ao critério do maior ou menor
bom senso da parte de quem escreve e publica. Neste sentido, a
indústria deparou-se com um sem número de novos problemas e
desafios causados pelos "dirt sheets" com fenómenos como
os spoilers, as fugas de informação, os ataques cerrados a
determinados wrestlers, wokers e/ou promotores, o incitamento a
guerras entre determinadas personalidades do business, o
doutrinamento de uma visão única acerca do que é e deve ser o Pro
Wrestling, entre muitos outros. Problemas e desafios esses que
obrigaram as promotoras a alterar substancialmente os seus conteúdos
e produto e que tornaram bastante mais difícil a criação e
construção de um espectáculo que vá de encontro às expectativas
dos fãs. E, neste ponto, os "Dirt Sheet" desempenham um
papel bastante nefasto e perverso ao substituir as suas verdadeiras
funções e responsabilidades de informar e divulgar a modalidade,
pela fabricação de informação e a tentativa de gerar buzz e
controvérsia a todo o custo, apenas para aumentar as vendas, os
números de seguidores e visitas e os patrocínios, deturpando a real
vocação da sua actividade e transformando-a num negócio onde
apenas o "lucro" importa...e aqui, infelizmente, não são
diferentes de nenhum outro órgão de comunicação associado aos
mais variados desportos, dos quais os jornais desportivos portugueses
são um excelente exemplo na forma como mentem e inventam com o
propósito de aumentar as vendas.
Assim, e como não poderia deixar de acontecer, alguns
"dirt sheets" e seus administradores e/ou redactores foram
ganhando uma maior visibilidade, face aos números de seguidores que
ao longo dos tempos conseguiram "amealhar". Neste sentido,
o Wrestling Observer e o Pro Wrestling Illustrated são, de longe,
aqueles que mais mediatismo e crescimento conseguiram averbar, sendo
que o administrador do primeiro, Dave Meltzer, conseguiu para si um
claro destaque em relação aos demais. Porém, se por um lado o Pro
Wrestling Illustrated desempenha o seu papel e função enquanto órgão
de comunicação afecto ao Pro Wrestling de uma maneira bastante
correcta para com a indústria e os seus simpatizantes (produzindo um
conteúdo que, em grande medida, vai de encontro aos adeptos "smark"
e "mark"), por outro lado, o Wrestling Observer de Dave
Meltzer, como grande "smart" que arroga ser, assume uma
postura completamente diferente, para pior (na minha opinião).
Meltzer e o seu "dirt sheet" são o "Guru" dos
chamados "smarks", apresentando como conteúdos uma visão
e interpretação da modalidade e do sports entertainment que deixa
muito a desejar e que, por vezes, não encontra qualquer explicação
para as "teses" que defende. Como já devem ter percebido
(e não tenho qualquer problema em reconhecê-lo) sou um grande
crítico de Meltzer e do seu trabalho. Ora, isso acontece, em grande
medida, não só pelo facto de Meltzer ser alguém que gosta de
demonstrar conhecimentos e ligações ao mundo do pro wrestling que,
de facto, não tem ou que, mesmo tendo, têm muito menor relevância,
mas também por ser um daqueles pseudo-jornalistas que gostam de
fabricar noticias e de criar alguma controvérsia com situações
mesquinhas, apenas para aumentar a sua visibilidade e notoriedade.
Por outro lado, e como já tive oportunidade de referir é alguém
cuja visão acerca da modalidade me levante sérias reservas. Tomemos
por exemplo as suas classificações para melhor wrestler, melhor
promotora, melhores combates, etc. Como é possível que ele muito
raramente escolha para o prémio de melhor wrestler aquele que está
mais over, que vende mais merschandising e que enche mais arenas?!
Como é possível que alguma promotora possa ser classificada de melhor que a WWE quando, na verdade, no que ao sports entertainment
diz respeito, ainda que a companhia de Vince McMahon apresente um
produto algo enfadonho e repetitivo, nenhuma outra lhe consegue fazer
cócegas?! Como é aceitável que, grande parte das vezes, escolha
para melhores combates muitos dos que ocorrem no circuito
independente, onde a psicologia de ringue é praticamente inexistente
e cujo draw do próprio match é altamente residual?! Enfim, pequenos
exemplos que demonstram como Meltzer não compreende,
verdadeiramente, o que é o Pro Wrestling e o Sports
Entertainment...que não percebe que estamos perante um espectáculo
de entretenimento onde o atleticismo tem fundamental preponderância,
mas não num desporto de combate, com lutas reais e títulos obtidos
pela superioridade físico-atlética dos competidores. E o pior é
que este tipo influencia muitos adeptos e, infelizmente, muitos
wrestlers da nova geração (como os Generation Me/Young Buks,
Christopher Daniels e Kazarian, Davey Richars e Eddie Edwards, Jay
Lethal, entre muitos outros) e alguns promotores (como,
especialmente, Dixie Carter).
Conclusões
Tal como acontece com os restantes órgãos de
comunicação afectos a determinado fenómeno, foi o crescimento e
dimensão global do Pro Wrestling enquanto enquanto actividade de
massas que proporcionou a criação e aparecimento dos seus próprios
órgãos de comunicação, conhecidos por "Dirt Sheets".
Por outro lado, os "Dirt Sheets" foram fundamentais para o
desenvolvimento e ulterior crescimento da modalidade, através da
constante e regular informação que passava aos fãs e seguidores do
business e, também, pela proximidade e facilidade de acesso junto
dos mesmos. Em contrapartida, a generalização e disseminação dos
"dirt sheets" permitiu que qualquer um pudesse expor as
suas opiniões e fazer-se ouvir "mundo fora", contribuindo
para uma completa desregulamentação desta actividade cujo maior
ou menor profissionalismo e maior ou menor respeito para com a
própria indústria e seus trabalhadores ficou ao critério de cada
um e do seu bom senso ou falta dele. Esta situação não só criou
constrangimentos às promotoras que se viram obrigadas a alterar os
seus conteúdos e produto, para fazer face aos novos problemas e
desafios causados pelos "Dirt Sheets". Mas transformou,
também, em grande medida, muitos dos órgãos de comunicação
afectos ao pro wrestling numa espécie de negócio onde tudo é
permitido (desde a fabricação de notícias ao fomento de intrigas)
desde que assegure mais vendas, seguidores, visitas, patrocínios e
lucro...por substituição ao verdadeiro papel de promoção da
modalidade e prestação de informação e esclarecimentos pelo qual
qualquer órgão de comunicação deste meio se deveria reger. Por
último, e tirando proveito desta situação, alguns "dirt
sheets" e seus administradores e/ou redactores conseguiram
alcançar alguma visibilidade e notoriedade, de entre os quais
podemos destacar mais claramente o Wrestling Observer de Dave
Meltzer. Personalidade essa cuja visão sobre a modalidade deixa
muito a desejar e cujas teses são, maioritariamente, inexplicáveis
e injustificáveis...desde logo, por exemplo, se pegarmos na forma
como classifica os melhores wrestlers, as melhores promotoras e/ou os
melhores combates. Situação essa que se torna ainda mais perversa
quando influencia uma vasta quantidade de seguidores e adeptos da
modalidade, muitos wrestlers e, até, alguns promotores. Por
contraponto ao "trabalho" desenvolvido por Dave Meltzer,
temos o Pro Wrestling Illustrated que, não só faz uma análise e
interpretação correcta do que é verdadeiramente o pro wrestling e
em que consiste o sports entertainment, como procura, informando e
esclarecendo, produzir conteúdos que vão de encontro às aspirações
dos mais diversos fãs, sejam eles "smarks" ou
"marks"...sem que, no entanto, deixe de respeitar, sempre,
a modalidade e os seus praticantes.
E
VOCÊS, O QUE PENSAM DE DAVE MELTZER E DOS DIRT SHEETS?!
Um Abraço!
Dias Ferreira
PS:
Não se esqueçam de indicar assuntos e temas que gostariam de ver
ser abordados no espaço "Dias is That Damn Good".