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Dias is That Damn Good #191 – "O Que Nos Dizem os Ratings?!"

Boas Pessoal!



Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn Good", o espaço com mais história na nossa CWO ;)

O Pro Wrestling, ao longo da sua história, foi uma indústria que em muito beneficiou do mercado televisivo para se consolidar como fenómeno de massas à escala global. Foi, aliás, a revolução no sistema tele-cabo que proporcionou o gigantesco boom a que se assistiu nos anos 80 e que, já nos anos 90 com os shows ao vivo e em directo, permitiu ultrapassar todas as barreiras possíveis e imagináveis. Consequentemente, os números e ratings obtidos pelos programas das maiores promotoras da modalidade em prime-time (maiores que quaisquer outros shows transmitidos à mesma hora), transformaram o próprio business num dos mais rentáveis para as cadeias de televisão que os transmitiam...conquistando, dessa forma, inúmeros patrocínios e uma preponderância inquestionável ao nível dos conteúdos que qualquer estação de televisão gostaria de poder oferecer aos seus telespectadores.

A realidade actual é, contudo, outra. Os conteúdos e produtos mudaram, os públicos-alvo também, assim como a própria sociedade e as expectativas que a mesma tem no que se refere à produção televisiva. Ora, como não poderia deixar de ser, essa situação afectou o Pro Wrestling e a importância que o mesmo representa, enquanto conteúdo, para as diferentes cadeias e estações de televisão. Neste sentido, os ratings ajudam-nos a compreender um pouco as diferenças que encontramos, sobretudo, dos anos 90 para os dias que correm e permitem-nos, ainda, perceber qual a posição e importância emanada pela modalidade na sociedade global da alta tecnologia e das redes sociais em que vivemos. E esta será a temática do texto que hoje vos escrevo, onde procurarei, através da análise dos ratings, fazer uma pequena reflexão sobre as indicações que os mesmos nos têm vindo a dar.

Não percam, por isso, as próximas linhas...



Os anos 80 têm um significado especial para o Pro Wrestling pois foi no decorrer destes que a modalidade e a indústria conheceram a sua primeira gigantesca explosão. Esta foi a década de Hulk Hogan, Randy Savage, Roddy Piper, Ultimate Warrior e Jake Roberts, entre muitos outros, na WWE e de Ric Flair com os Four Horsemen, Dusty Rhodes, Road Warriors, Magnum TA, Lex Luger e Sting, e outros, na NWA/WCW. Mas foram, acima de tudo, os anos em que os serviços de televisão por cabo revolucionaram por completo o mercado televisivo norte-americano. E esta revolução teve como grandes precursores a TBS de Ted Turner (que transmitia os eventos da Jim Crocket Promotions – NWA) e a USA Network (que, por sua vez, transmitia os espectáculos da WWE). Pela primeira vez na história dos EUA, duas estações de televisão conseguiam cobrir por completo o território do país e levar a casa dos seus habitantes e telespectadores os seus conteúdos. Ora, foi desta forma que o Pro Wrestling (que até então tinha, apenas, uma dimensão regional e estatal) passou a ter uma dimensão, visibilidade e mediatismo nacionais, tornando-se num fenómeno de popularidade em pouco tempo e conquistando milhões de adeptos e seguidores. Por consequência, os wrestlers que, agora, apareciam nas televisões de todos os norte-americanos tornaram-se cada vez mais famosos, as arenas começaram a ficar lotadas e o merschandising vendia-se a um ritmo record. Assistia-mos, então, ao primeiro grande boom da modalidade e ao reconhecimento da fundamental importância que a televisão passava a deter no desenvolvimento das promotoras e da indústria.

Já nos anos 90, depois de um período em que o ambiente e entusiasmo em redor do Pro Wrestling havia esmorecido, a televisão viria a dar, de novo, provas da preponderância que havia conquistado no seio do business. Situação essa que se verificou quando, em 1993, a WWE criou o WWE Monday Night RAW, um dos primeiros talk-shows, com registo semanal e gravado ao vivo. Mais tarde, seria a vez da WCW apresentar um programa no mesmos moldes, o WCW Monday Nitro. Ora, este fenómeno originou toda uma nova situação, desde logo pela regularidade da programação, mas também, e sobretudo, porque a partir daquele momento, os conteúdos das duas maiores promotoras da modalidade passariam a competir em prime-time uns com os outros, mas também com os restantes conteúdos apresentados pelas mais diversas estações de televisão. E neste ponto, os ratings e a capacidade de aglomerar patrocínios e verbas, passaram a ter capital importância no desenvolvimento de todo este processo. Consequentemente, a partir desta altura, as companhias de Pro Wrestling tiveram de se aplicar e dar o seu melhor no que concerne aos seus conteúdos e produtos, pois só assim conseguiriam conquistar e agarrar os fãs, competir uma com a outra e, mais importante que tudo o resto, fazer frente à restante programação e conteúdos oferecidos pelos distintos canais televisivos. Foi, portanto, este o contexto que nos levou aos maior desenvolvimento jamais assistido na modalidade e à obtenção de números e ratings que nunca se julgaram ser possíveis de alcançar. Foi este o estádio que nos trouxe à modernização e realismo da nWo na WCW e ao anarquismo e super-entretenimento da Attitude Era na WWE.



A actualidade, no entanto, vive-se num contexto completamente diferente. O encerramento da WCW e a sua aquisição por Vince McMahon destruiu quase por completo a concorrência e, no que ao pro wrestling diz respeito, instaurou um poderoso monopólio da WWE. Sem concorrência directa, a empresa tem facilitado, deixou de inovar e de apresentar conteúdos verdadeiramente criativos e interessantes, contribuíndo em grande medida para a estagnação do business e para a perda gradual de adeptos e seguidores a que se vem assistindo ao longo da última década. Consequentemente, os números baixaram e os ratings caíram consideravelmente, situação que retirou e retira ao Pro Wrestling enquanto conteúdo a importância fundamental que outrora detinha. No mesmo sentido, todo um novo conjunto de programas e formas de entretenimento foram conquistando o seu espaço e, concorrendo com a WWE, têm-lhe vindo a ganhar terreno. Neste ponto, é a UFC, enquanto grande promotora de Mixex Martial Arts, quem mais estragos tem produzido, aglomerando uma vasta legião de fãs por todo o mundo e expandindo a sua indústria de uma forma exponencial. A UFC ganhou muito terreno à WWE e os seus ratings têm obtido valores consideravelmente elevados, situação que se compreende pelo facto de, enquanto desporto e modalidade de combate puro e duro, os seus combates e confrontos serem reais. Ora, como me parece óbvio, quando se deixa de apostar na inovação e na criatividade no que às storylines diz respeito e se passa a exercer o foco nos combates e em rivalidades à volta dos títulos, não se pode querer ao mesmo tempo ser capaz de competir com uma companhia que produz o mesmo tipo de conteúdo mas com um carácter verdadeiro e real.

E, de facto, é isso que a WWE necessita compreender. Precisa perceber que é nas pequenas grandes coisas que tornam o pro wrestling diferente dos desportos de combate (o sports entertainment das grandes histórias e rivalidades) que a companhia pode fazer a diferença, marcar a sua posição e voltar a conquistar terreno e seguidores. Por outro lado, os ratings também nos mostram que é necessário olhar os novos conteúdos apresentados pelos mais diversos canais de televisão e verificar quais aqueles que mais telespectadores "prendem", quais aqueles que a sociedade global em que vivemos privilegia, quais aqueles em que grande parte da população mais se revê. Só isso permitirá fazer uma reciclagem do produto no sentido de substituir o obsoleto pelo novo e refrescante. É um facto que temos, sobretudo nos últimos tempos, assistido a um rejuvenescimento das caras que a WWE semanalmente nos apresenta e que esses novos talentos conseguem diferenciar-se mais facilmente, apresentam características e personalidades bem distintas e que a sua qualidade e potencial são superiores. Contudo, pergunto-me que grande história (que não trate exclusivamente de wrestling) está a ser contada nos RAWs e SmackDowns?! Que angles permitem diferenciar os vários RAWs e SmackDowns produzidos pela WWE?! O que tem acontecido nos diferentes programas e shows que os tenha tornado dignos de registo e memoráveis?! À pergunta o que aconteceu no RAW ou SmackDown de há três semanas, alguém consegue responder?! Alguma coisa ficou na memória por ter valido realmente a pena assistir?! Enfim, um conjunto de questões que devem preocupar a WWE e às quais a companhia necessita responder urgentemente no sentido de melhorar e de se aperfeiçoar....no sentido de dar a volta à actual situação e colocar o pro wrestling, como antes, numa posição de relevo e de fundamental importância para os canais de televisão. Só dessa forma a indústria e o business poderão voltar a crescer, a aumentar o seu número de fãs e seguidores e, acima de tudo, a constituir uma alternativa credível aos restantes conteúdos e programação televisiva.


E a vocês, o que vos dizem os ratings?! Qual julgam ser a sua verdadeira importância?!


Um Abraço,
Dias Ferreira


PS: Não se esqueçam de indicar mais temas e assuntos que gostariam de ver ser abordados nesta coluna.


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