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Brock Lesnar: Death Clutch - Parte II (Cap. 11) | Literatura Wrestling


Com o objetivo de divulgar histórias contadas pelos próprios lutadores em livros adaptados e traduzidos pelos colaboradores deste blog, a Literatura Wrestling trás, nestes próximos meses, toda a vida de uma das estrelas mais conhecidas no mundo do wrestling atualmente num só livro.

Semanalmente será publicado uma parte do livro "Brock Lesnar: Death Clutch", escrito e publicado em 2011 pelo próprio Brock e por seu amigo de longa data, Paul Heyman, começando pelo prefácio e acabando nos agradecimentos (parte final do livro). Esperemos que gostem das histórias!


Parte II: The Next Big Thing
THE NEXT BIG THING

Poucos dias após regressar a Minneapolis, eu recebi a chamada. A WWE queria que eu fosse viajar na estrada com eles e começasse por fazer “dark matches”. A luta para me tornar num wrestler de entretenimento começou. Os primeiros “dark matches” que me lembro são as que eles me colocaram no ringue contra Billy Gunn. Nós estávamos em Nashville ou Knoxville (todas essas cidades pareciam as mesmas para mim) numa noite, e Curt e Brad vieram assistir. Eu estava a fazer o “Shooting Star Press”—um mortal para trás da corda superior, onde se atera com o corpo todo em cima do meu adversário —naquele momento, e tanto Curt como Brad tinham umas expressões na cara como que a dizer, “O que diabos se passa contigo, Brock?”

Ambos vieram até mim diretos a dizer, “Tu vais ter uma carreira relativamente curta se continuas a fazer esse mortal de um gorila de 136 Kg. Trata de arranjar um novo finisher.”

Aqueles homens disseram-me na cara, porque importavam-se comigo. “Deixe isso para os lutadores mais pequenos”, disse Curt. “Eles precisam de qualquer vantagem que agarrem neste negócio. Tu não precisas desse golpe. Não vale a pena o risco.” Mas eu continuei a fazer o “Shooting Star”, porque era espectacular. Eu queria ser o melhor, e ninguém do meu tamanho era capaz de fazer aquele golpe.

Se não consegues imaginar um homem de 136 Kg a girar no ar e a aterrar diretamente no seu adversário, ou se nunca me viste a fazer o “Shooting Star”, os vídeos são facilmente encontrados na Internet. Vais ficar impressionado com o que verás. E também irás ficar arrepiado quando vires o que acontece quando eu não executo o golpe corretamente. Eu tenho muita sorte de não estar preso a uma cadeira de rodas.

No início, eu estava a viajar com Kurt Angle e Taz. Isso era tanto o bom e o mau, porque ambos desempenharam um grande papel no meu desenvolvimento e na minha quase destruição.

Kurt Angle era o vencedor da Medalha de Ouro na Luta Greco-Romana nas Jogos Olímpicos de 1996, e eu gostei do jeito como ele se aproximou da indústria do wrestling entretenimento, porque quando ele atacava as botas, a situação tinha acabado de ficar séria. Dizem que se Kurt fosse um carro, ele estaria com o acelerador preso.

Kurt e eu conhecíamo-nos muito bem, porque tínhamos o wrestling amador em comum. E ele respondia às minhas perguntas sobre o pro wrestling, já que ele tinha começado alguns anos antes de mim.

Kurt poderia ter ido para o Ultimate Fighting logo após os Jogos Olímpicos de 1996, mas a altura era péssima. O UFC ainda não estava “a acontecer” em 1996, e o dinheiro envolvido não era como hoje em dia é.

No primeiro dia em que eu me encontrei com Brad Rheingans, ele disse-me, “A vida é tudo sobre o momento.” Eu não tinha entendido naquele momento, mas anos mais tarde eu percebi. Tudo tem que acontecer no momento certo. Se não estás no lugar certo, na hora certa, então nada irá acontecer contigo.

Até hoje, todos me perguntam sobre Kurt e quais as hipóteses deles como um lutador de MMA. Vamos deixar uma coisa bem clara: Kurt Angle era um tremendo duro filho da mãe. Poderia Kurt, na sua melhor forma física, ter lutado no UFC? Absolutamente. E ele poderia ter dado cabo daquilo. Poderia Kurt lutar no UFC atualmente? Absolutamente não. Depois de tantas lesões, eu acho que ele nem passaria no teste físico.

Taz era outra pessoa única. Aqui está um wrestler baixinho, explosivo, cujo grande push estava atrás dele, e ele estava-se a esforçar ao máximo para fazer a transição para um comentador na TV. E por que não? Era uma boa ideia, o dinheiro era bom, e não precisarias de sofrer golpes e quedas no ringue todas as noites.

Taz podia falar tanto, o que fazia dele um bom comentador, e também fazia dele alguém divertido para estar no carro durante as viagens. Taz também era um grande fã de wrestling amador, conhecia a minha história, e ele sabia que eu queria chegar ao topo. Eu não tinha vergonha disso e ele gostava nisso em mim.

Um dia, Taz ouviu sobre o modo estúpido que eles queriam que eu trabalhasse durante um “dark match” —antiquado, pesado, monstro “heel”, aquelas porcarias falsas de pro wrestling. Taz apenas sacudiu a cabeça e disse “Isso não presta.” Sem enrolação, sem porcarias. Eu gostava disso sobre o Taz. Ele já estava no negócio há muito tempo, e ele não iria ser a mascote corporativa. Ele respeitava as minhas credenciais e eu respeitava a honestidade dele. Taz ouviu todos esses veteranos a darem-me conselhos maus sobre como um homem grande deveria trabalhar no ringue, mas eu sabia que era um novo dia e uma nova época. Taz sabia disso também, portanto ele levou-me para encontrar-me com Paul Heyman.

Como vocês sabem, Paul está a escrever este livro comigo, portanto é um bocado engraçado falar sobre ele, mas foi aí que nós nos tornamos amigos instantaneamente. Eu não conhecia Paul pelo Adam, mas ele acabou por se envolver nos meus próximos dois “dark matches”. Paul foi direto a Vince McMahon e interveio por mim.

Do nada, a máquina começou a ficar pronta para mim. Foi-me dito que eu era necessário na WrestleMania em Toronto, e que eu lutaria durante a convenção Fan Axxess. A próxima coisa que eu me lembro é de Paul a puxar-me para um canto, muito animado, a dizer-me, “Nós iremos começar na TV, no dia após a Mania.”

Eu fiz a minha estreia nacional na TV em Março de 2002. Eu comecei a fazer “run-ins”, que são aparições rápidas em frente às câmeras, onde eu saltava para o ringue e atingia alguém com o meu “finisher”, que acabou por ser chamado de“F-5.” O golpe consistia em colocar o adversário por cima da minha cabeça para cima dos meus ombros, girá-lo e atirá-lo para o chão, tudo num movimento fluído. Todos adoraram. Os fãs da WWE estavam à procura de uma nova estrela, e lá estava eu a esmagar tudo o que aparecia no meu caminho.

Após a minha primeira oportunidade na TV, tudo aconteceu muito rápido. Passou tão rápido que pareciam imagens desfocadas. É como se eu tivesse aplicado um “F-5”a mim mesmo.

Na verdade, todo o meu tempo na WWE era uma desfocagem, mas aqueles primeiros meses eram ainda mais desfocados. Paul tornou-se no meu “agente” no ar, (eles não queriam um “manager de wrestling” old-school, e Vince gostou da ideia de um agente “heel” porque ele odiava lidar com agentes de Hollywood), e eu entrei num programa rapidamente com os Hardy Boyz. Eu realmente gostava de trabalhar com eles. Eles movimentavam-se bem, o público adorava-os, e eles conseguiam vender os meus golpes de forma a que a audiência ficasse presa à luta e furiosos comigo. Lita, uma das “divas” da WWE, estava a namorar com Matt Hardy na altura, e ela estava com eles em frente às câmeras também, então eles deram a Paul e a mim a opção de escolher alguém para conseguir mais reações adversas do público. Nada como escolher uma mulher para irritar o público.

Eu quero mencionar rapidamente algo aqui neste livro, e então depois volto ao assunto que estava-se a discutir:

Enquanto tudo isto acontecia, a minha filha Mya nasceu. Logo após a minha estreia, e assim que estava a começar a viajar na estrada com eles, esse pequeno bébé surgiu na minha vida e mudou tudo para sempre. Eu tornei-me pai a 10 de Abril de 2002. Não importa o que eu fizesse no resto da minha vida, eu sempre serei o primeiro e único pai de Mya Lynn Lesnar. Eu amo muito Mya, e eu digo isso a todos desde o dia em que ela nasceu, pois eu tornei-menum homem abençoado por causa dela.

Eu estava a conseguir um bom destaque na televisão, e comecei a ser anunciado em eventos da WWE por todo o mundo logo a seguir. Nos negócios, quanto mais tu trabalhas, e mais fãs ganhas, mais consegues produz. Enquanto os meus cheques de pagamento ficavam maiores e maiores, mais e mais tempo eu ficava longe de casa. Isso era a troca equivalente, e apenas a outra maneira da indústria do wrestling te devorar.

A vida na estrada era selvagem. Eu estava a voar para uma nova cidade todos os dias, e vivia uma vida de estrela do rock. Em qualquer lugar que eu ia, as pessoas conheciam-me. Eu estava a ter uma boa vida, e quem não gostaria? Dinheiro. Mulheres. Mais mulheres. Mais dinheiro.

O único problema é que tudo isto não era real. Isto não era vida. Isto estava a matar-me. Eu olhava em redor do balneário e pensava no quão sortudo era. Eu era provavelmente o mais jovem de lá, e fui direto ao topo. Os outros atletas do balneário não foram tão sortudos. Eles caíram na armadilha da vida. Eles não tinham saída. Eles bebiam e tomavam analgésicos como se fossem balas, e pareciam miseráveis porque perderam a fé das suas famílias —tudo o que eles tinham era a Federação.

Eu não queria ser um velho a colocar joelheiras por cima dos joelhos operados e quebrados, a esforçar-se para puxar as cotoveleiras nos meus braços, a sofrer de artrite, tomando analgésicos e indo para mais uma luta por dinheiro. Portanto, por muita diversão que eu tivesse, mesmo estando no lá em cima, eu já estava a pensar como é que iria sair daqui. As palavras de Curt ainda passavam na minha mente: “Entrar para sair fora.”

Assim que passamos pelos Hardys, um foguete estava preso nas minhas costas e o fusível estava aceso. Até que chegou a situação envolvendo a luta que nunca aconteceu contra Stone Cold Steve Austin, uma das maiores estrelas da WWE, na altura. Porque é que ele era uma estrela? “Porque Stone Cold disse.” Ele era grande, durão, atrevido, rude, cruel, bebedor de cerveja, mas o público não se cansava dele.

Paul conhece a história melhor do que eu, porque ele estava por trás das cenas com Vince, e eu estava apenas a fazer o meu trabalho, chegando a horas, lutando e recebendo os meus cheques. Mas irei fazer o meu melhor para contar tudo o que consigo lembrar.

Eu fui para Atlanta, e um agente da WWE disse-me que eu iria trabalhar com Steve naquela noite e que iria vencê-lo, de alguma forma. Mas minutos mais tarde, tudo mudou. Eu ouvi dizer que Steve tinha-se ido embora. Foi para casa. Com Steve de fora, Vince precisava fazer algo depressa.

Paul puxou-me para o lado e trouxe-me dois bifes do escritório de Vince. Ele roubava sempre alguns dos bifes que Vince comia à tarde e trazia-me. Eu nunca perguntei-lhe se Vince sabia. Eu apenas ficava feliz de comer aquela carne de primeira.



Enquanto eu comia, Paul explicava-me a nova mudança de direção: O próprio Vince iria lutar contra Ric Flair naquela noite, em Atlanta—uma luta entre dois homens cinquentenários—com a história de que o vencedor leva tudo, pelos 50% da WWE de Vince, contra os 50% da WWE de Flair (storyline). Mas quando parecia que Flair iria derrotar Vince, eu iria aparecer, saltar para o ringue e custar a vitória a Flair. Vince então iria dever um favor ao Next Big Thing.

De acordo com o script rapidamente escrito, Paul iria interceder no meu favor dizendo a Vince, em transmissão nacional, que se eu vencesse o King of theRing 2002, eu iria ganhar uma luta pelo título no pay-per-view SummerSlam. Os fãs que estavam a assistir ao show ainda não sabiam, mas Vince já tinha decidido fazer de mim o mais jovem WWE Heavyweight Champion de sempre na história.

Lá estava eu, apenas com alguns meses após a minha estreia oficial na TV, apenas um ano após sair da faculdade, e estava programado para vencer o título da WWE no“main event” do segundo maior PPV do ano. Eu via os meus cheques ficarem cada vez maiores todas as semanas, e nem eu fazia ideia do quanto dinheiro iria ganhar após participar nesses dois eventos. O main event de um PPV no nosso negócio, é tão grande o quanto parece. É assim que é. Era tudo negócios para mim. Eu não estava nisso pela fama ou pela glória, embora eu me divertisse algumas vezes. Eu estava nisto pelo dinheiro. Eu queria alimentar a minha família, eu queria dar aos meus pais e aos meus filhos a melhor vida que eu lhes poderia dar, e sair enquanto ainda era relativamente jovem e saudável.

Naquele verão, o meu foguete rumo ao topo passou a voar bem depressa. Eu não consigo lembrar-me da minha estreia no Madison Square Garden, contra Ric Flair, mas com certeza eu lembro-me de ser pago por isso. Eu não me lembro quantas vezes fomos ao Reino Unido, mas eu lembro-me do meu pagamento ficar cada vez maior a cada vez que eu regressava. Eu não me lembro de nada específico sobre o PPV King of the Ring, mas eu lembro-me que foi quando recebi o maior pagamento da minha carreira, na altura.

Isso é o que acontece quando estás a viajar pela estrada e em frente às câmeras de TV. Não consegues diferenciar uma cidade da outra, ou um programa do próximo. Está tudo misturado. Entras num hotel e ele parece-se com todos os outros hotéis, diriges um carro alugado até o aeroporto e embarcas no avião, sem preocupar onde é que irá aterrar... porque é sempre a mesma coisa. A rotina torna-se cansativa rapidamente e nada muda.

Algumas vezes, eu tinha bastante sorte de chegar cedo o suficiente numa cidade para ir ao ginásio, e até encontrar uma refeição decente. Após isso, eu apenas matava o tempo até ir para a arena. Eu não conseguia fazer muita coisa, porque os fãs reconheciam-me em qualquer lugar que eu fosse. Portanto, durante a maior parte do tempo, eu ficava no meu quarto.

Assim que eu chegava à arena, eu tinha que apertar as mãos de toda a gente. Porque assim diz a lei. Como se o próprio Deus tivesse escrito um 11º mandamento. Eu não vi nenhum dos rapazes desde quando pegamos as bagagens no aeroporto, há algumas horas, esperando que as bagagens viessem rapidamente para que pudéssemos entrar na linha de carros alugados. Mas nós apertávamos sempre as mãos, e todos sorríamos uns para os outros. Isso era sem grande sinceridade e parvo que me deixava doente.

Enquanto isso e enquanto eu passaria por toda esta estrada ávida que a vida da viagem se tinha tornado, tudo o que eu podia pensar era voltar para casa e ver a minha bebezinha Mya, porque ela crescia um pouquinho a cada dia que eu estava fora de casa. Eu estava a perder todas essas maravilhosas experiências com a minha filha, perdendo todas essas grandes coisas sobre ser pai, e tudo o que eu estava a fazer era aquela porcaria de “rotina de apertar as mãos”com um bando de pessoas que eu acabei de ver e que agora agiam como se fossemos irmãos que não se viam há anos. Isso era insano.

Eu lembro-me duma vez em que estava a olhar para o balneário e vi Ric Flair, que tinha os seus cinquenta e poucos anos, e disse para mim mesmo: “Eu não vou ser assim.” Isso não quer dizer que eu estava a desrespeitar Ric. Ele dedicou a sua vida à indústria do wrestling. Ele é verdadeiramente um dos maiores, e ele merece todo o crédito pelo que fez.

Mas com toda a grandeza que o seu nome supostamente representa, e todos os anos que ele passou no topo, porque é que ele ainda continua a estar aqui? Ele entrou, mas nunca saiu fora.

Eu não vou ser o tipo de pessoa que vai perder o aniversário dos seus filhos ou das suas graduações.

Eu pergunto quantas festas de aniversário dos seus filhos, Ric perdeu? Quantas das suas graduações? Eu não queria estar com sessenta anos e ainda a usar calções curtos.

Flair é conhecido como o melhor, e se o negócio podia quebrá-lo, então podia acontecer com qualquer um. Até mesmo comigo. É por isso que, cada vez que eu olhava para Flair, todas as vezes que eu o via a subir ao ringue e a gritar a sua marca registrada “Woooooooooooooooo!”, eu ouvia as palavras de Curt Hennig na minha mente: “Entrar para sair fora.”



Traduzido por: Kleber (nWo4Life)

Adaptado por: FaBiNhO

No próximo capítulo: Brock Lesnar nos contará sobre o primeiro título conquistado na WWE! Se você perder o próximo capítulo, ganhará uma passagem só de ida para Suplex City!
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