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A Alternativa Fenomenal #25: O Incidente do Victory Road '11





Saudações a todos, e bem vindos a mais uma Alternativa Fenomenal. Normalmente em meu espaço, costumo falar de coisas boas do wrestling, oferecendo aos leitores conhecimento sobre outras companhias, ou mostrando a história (ou curiosidades) de alguns lutadores fora da WWE. Entretanto, hoje é um dia diferente. No dia 13 de março de 2011, há 5 anos atrás, ocorria um dos momentos mais vergonhosos na história recente do wrestling, e que quase resultou no fim da TNA: o infame incidente do Victory Road 2011, quando Jeff Hardy apareceu completamente alterado (leia-se drogado) para seu combate contra Sting.

Hoje falarei um pouco sobre o evento em si, mas principalmente darei atenção à storyline que envolveu Hardy e Sting, bem como o momento que ficaria gravado na história, como a quase derrocada da TNA e de Jeff Hardy. Sem mais delongas, passemos ao artigo;


Pode-se considerar que tudo teve início em outubro de 2010, no Bound for Glory, quando Eric Bischoff e Hulk Hogan interferem no main event do show, uma 3-way match entre Jeff Hardy, Mr Anderson e Kurt Angle pelo TNA World Heavyweight Championship, e dão a vitória ao "Enigma", formando assim a stable que passou a ser conhecida como Immortal, junto a Abyss, Jeff Jarret, Ric Flair e os Fourtune (AJ Styles, Kazarian, Bobby Roode e James Storm). Com esta vitória, Hardy tornou-se pela primeira vez TNA Champion, e realizou sua primeira (e por enquanto única) heel turn na companhia.




A dominância de Hardy e da Immortal foi assegurada no decorrer dos meses, com o grupo tomando por algum tempo, a posse de todos os cinturões masculinos da TNA, e com Bischoff e Hogan assumindo (em storyline) o controle executivo da empresa. A dominância sobre os títulos durou pouco, pois no Genesis, em janeiro de 2011, Hardy perderia o título para Mr Anderson, e no fim do mês, os Fourtune decidiriam por sair da stable e rivalizar com ela, citando que não deixariam que Bischoff acabasse a TNA, do mesmo jeito que fez com a WCW.

Em fevereiro, no Against All Odds, Hardy recuperaria seu título de Anderson, e Hulk Hogan passaria a ser o "presidente" da companhia, após vencer uma batalha judicial (em storyline) contra Dixie Carter.

                          Jeff Hardy como TNA Immortal Champion (nome dado ao TNA Title durante sua participação na stable)


Sting estava durante todo este tempo fora da companhia, pois seu contrato havia se encerrado no final de 2010. Entretanto, após muito alarde sobre uma possível ida para a WWE, ele retorna no dia 3 de março à TNA, tendo sido trazido pela network da companhia (a Spike TV), sendo o desafiante surpresa de Hardy para um combate pelo TNA Title, que veio a ganhar, iniciando seu terceiro reinado como campeão mundial da TNA.




Hardy, na semana seguinte, reclamaria que teve seu título roubado, pois não teve tempo para se preparar para o combate contra Sting, e por isso Hogan e Bischoff concederam-no uma revanche contra o "TNA Icon" no Victory Road 2011, três dias depois. E é nesse ponto que queríamos chegar.

Durante sua heel turn, muitos rumores de backstage surgiram em relação ao comportamento de Jeff Hardy. Naquela época, ele não era ainda o homem de família sério e, acima de tudo, sóbrio que vemos hoje. Muitos reportavam que ele agia de forma controversa, algumas vezes alterado, e sendo inclusive investigado sobre o uso e a possível venda de drogas. Entretanto, a TNA insistiu em usá-lo como o protagonista de sua principal storyline, e deu-lhe outro combate pelo seu principal título.

                                  Pôster do Victory Road 2011 com Kurt Angle (que nem sequer participou do evento)

A noite do evento chega, e então tem início uma saga penosa para a empresa. Dos sete combates que precederam o main event, três foram duramente criticados: a tag team match entre Rosita e Sarita contra Angelina Love e Winter pelos TNA Knockouts Tag team Championships (que durou menos de 5 minutos), onde Rosita fez um pinfall longo em Winter (lutadora com porte físico muito maior que ela) e considerado como pouco credível; o First Blood match entre Matt Morgan e Hernandez, vencida pelo "Super-Mex" quando o mesmo cuspiu um líquido vermelho no rosto de Morgan (Hernandez inclusive teve seu bladejob mostrado pelas câmeras); e Mr Anderson contra Rob Van Dam para definir o number one contender ao TNA Title, pois Anderson cometeu erros em dois golpes básicos (inclusive um headlock) e seu final foi considerado completamente estúpido (a luta terminou em double count-out após Anderson acertar seu "Mic Check" em Van Dam na rampa de acesso).




Os demais combates foram considerados medianos. Tommy Dreamer venceu Bully Ray, em um combate bastante calcado no histórico de ambos na ECW; Kazarian reteve seu X-Division Championship numa boa Ultimate X match contra um ainda pouco interessante Robbie E e os Generation ME (os Young Bucks); e a Beer Money derrotou os Ink Inc em uma luta que não contou com uma storyline muito elaborada, mas que conseguiu ser interessante.




O único combate do evento que foi elogiado (e considerado como a única coisa a salvá-lo) foi entre AJ Styles e Matt Hardy (com Ric Flair), apesar de que o confronto de ambos envolvia muito mais Flair, que havia traído os Fourtune e se juntado em definitivo a Immortal, do que o próprio Hardy, que foi bookado para enfrentar Styles após uma 3-way Street Fight entre os três, onde Matt e o "Nature Boy" se juntaram para derrotar o "Phenomenal One". A luta decorreu muito bem, e tanto Styles quanto Hardy tiveram uma grande prestação, que resultou em vitória para AJ.




Porém, era aqui que a crise assumiu sua maior forma. Durante a maior parte do evento, ninguém conseguia encontrar Jeff Hardy, mas nada disso transpareceu durante a apresentação do Victory Road. Aproximadamente 30 minutos antes de seu combate no main event, eis que os produtores James Tilquist e Bruno Sassi enfim encontram o desafiante, que estava nos arredores de seu trailer (algumas fontes chegaram a dizer que ele foi encontrado dentro de um banheiro). E o que viram não foi nada agradável.

Jeff estava em um estado terrível. Visivelmente drogado, ele mal conseguia andar, e teve que ser carregado de seu trailer até a "gorilla position" (local que fica logo atrás das cortinas por onde os lutadores se dirigem ao ringue) para que pudesse se dirigir ao ringue. Logo em sua entrada os fãs perceberam que algo estava errado com o então 'Antichrist of Professional Wrestling", pois ele caminhava de um jeito estranho, mal se mantendo em pé. O árbitro do combate, Brian Hebner inclusive fez o sinal de "X", usado para indicar que algum problema real ocorreu, durante a caminhada de Jeff para o ringue.

                                     Entrada de Jeff Hardy, onde é perceptível que algo estava errado com o lutador


Após a entrada de Sting e das costumeiras apresentações dos lutadores, eis que Eric Bischoff vem ao ringue e diz que havia conversado com Hulk Hogan sobre os ocorridos com a Network, resolvendo mudar o combate para um No Diqualification match. Na verdade, Eric havia feito o que realmente era necessário, ao impedir que Jeff combatesse em uma luta completa, tendo esta sido uma decisão que ele fez naquele mesmo momento (e pela qual recebeu vários elogios).

Quando o combate enfim começou, ele transcorreu da forma mais absurda possível. Por quase um minuto completo, Hardy fez uma encenação estúpida, fazendo menção de jogar sua t-shirt para o público, para enfim jogá-la no chão. Depois disso, a luta propriamente dita não passou de alguns poucos moves de Sting, seguidos pelo seu "Scorpion Death Drop", que encerrou o combate decorridos mais 30 segundos, totalizando um main event de aproximadamente 1 MINUTO E MEIO.




Os fãs ficaram completamente estarrecidos com aquilo, e cânticos de "Bullshit" eram ouvidos pela arena inteira. Hardy estava tão fora de si, que após levar o finisher de Sting, esqueceu de vender o golpe, tentando sair do pinfall, e ao término da luta, nem havia percebido direito que tinha perdido o combate. Ao campeão Sting, restou apenas concordar com os gritos de raiva vindos do público.

Os resultados disso foram os piores possíveis. O pay-per-view recebeu críticas devastadoras, sendo considerado como o pior do ano de 2011, e registrando uma quantidade de vendas irrisória. A "luta" entre Hardy e Sting chegou inclusive a receber a simbólica avaliação de menos 5 estrelas de Bryan Alvarez do Wrestling Observer Newsletter. Para tentar se redimir com aqueles que haviam comprado o pay-per-view, a TNA ofereceu a eles 6 meses gratuitos de seu serviço de vídeos "on demand", reconhecendo que a qualidade do evento passou longe do aceitável. O Impact também sofreu com uma queda em sua já pequena audiência, o que fez muita gente pensar que a empresa efetivamente fecharia as portas.

Hardy recebeu uma suspensão inicial de 2 semanas, mas só retornaria ao Impact depois de 6 meses, em setembro, após ter lidado com seus débitos com a justiça americana (ele era investigado desde 2009, justamente por problemas envolvendo drogas), e de ter passado por alguma reabilitação. Ele assumiu total culpa pelo ocorrido e disse que aquilo havia sido o "fundo do poço"em sua carreira. Ainda assim, demorou algum tempo até que sua imagem fosse totalmente restaurada para o que vemos hoje.




Falando um pouco sobre minha experiência pessoal, eu ainda conhecia muito pouco da TNA na época deste ocorrido, e nem sequer havia visto o evento ao vivo. Descobri sobre ele devido à grande quantidade de comentários que surgiram no dia seguinte, e quando fui enfim ver o show, inicialmente me senti um pouco frustrado pela qualidade meramente mediana que os combates iniciais demonstraram, e um entusiasmado pelo combate que AJ Styles e Matt Hardy protagonizaram. Mas não sabia o que dizer após o main event. Quando vemos que a dita "segunda maior companhia dos Estados Unidos" conseguiu a façanha de apresentar um evento mais criticado até que os de uma indy de menor alcance (como a Hoodslam, por exemplo), sabemos que algo não está nada certo.

Mesmo após esse desastre, a TNA tentou seguir em frente. Eles assumiram a culpa pelo ocorrido e, mesmo sob os olhos descrentes de muitas pessoas, se esforçaram para tentar dar a volta por cima, passando por momentos bons, e momentos muito ruins, mas nada comparável ao que enfrentaram naquela fatídica noite. Hoje, passados cinco anos, essa lembrança ainda persiste na mente de alguns fãs, e se hoje a TNA procura se re-erguer, e apresenta shows de boa qualidade, muito se deve ao que aprenderam com o erro que quase custou a continuidade da companhia.

Eu mesmo posso dizer que sou um fã da TNA, e quero que a empresa continue por muito tempo produzindo seus shows e criando estrelas, tais como EC3, Eric Young, Bobby Roode, e muitos outros. Mas também tenho que lembrar que, um dia no passado, eles quase afundaram, pela decisão equivocada de colocar um homem intoxicado para combater no main event de um pay-per-view, contra uma das maiores lendas do wrestling mundial, num combate valendo o principal título da companhia, e rezar para que algo do tipo nunca mais venha a acontecer. Aproveitem o artigo, e até a próxima.
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