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Brock Lesnar: Death Clutch - Parte III (Cap. 22) | Literatura Wrestling


Com o objetivo de divulgar histórias contadas pelos próprios lutadores em livros adaptados e traduzidos pelos colaboradores deste blog, a Literatura Wrestling trás, nestes próximos meses, toda a vida de uma das estrelas mais conhecidas no mundo do wrestling atualmente num só livro.

Semanalmente será publicado uma parte do livro "Brock Lesnar: Death Clutch", escrito e publicado em 2011 pelo próprio Brock e por seu amigo de longa data, Paul Heyman, começando pelo prefácio e acabando nos agradecimentos (parte final do livro). Esperemos que gostem das histórias!


Parte III: A Espada na Minha Garganta
A MINHA BREVE EXPERIÊNCIA NA NFL

Após sair da WWE na Primavera de 2004, eu comecei a perseguir uma carreira na NFL. Mas não fazia diferença qual o desporto que iria perseguir. Eu estava a escapar do estilo de vida da WWE. A NFL fazia sentido para mim. Era uma competição legítima e eu queria competir.

Eu fui procurar um agente de futebol americano, e a primeira pessoa para a qual liguei era alguém chamado Mike Morris, que foi um long-snapper (responsável por fazer o passe para o Quarterback) durante muito tempo pelos Minnesota Vikings. Na altura que eu estava a fazer wrestling pelos Gophers, eu conheci Mike através da Sociedade dos Atletas Cristãos. Eu fui convidado para levantar pesos no seu ginásio MILO. Aquele ginásio ganhou muita notoriedade, porque Mike falava sobre ele o tempo todo no programa de rádio KFAN em Minneapolis. Caso estejam a pensar sobre isso, MILO significa “Mike’s Insane Lifting Order” (Ordem Insana de Levantamento de Peso de Mike).

Mike Morris e eu combinávamos perfeitamente, porque nós éramos duas pessoas que adoravam aumentar a música do ginásio e fazer agachamentos até os nossos narizes sangrarem. A minha rotina de treinos com pesos na Universidade de Minnesota era o meu próprio programa, e eu comecei a treinar com Mike entre o meu primeiro ano e o último ano. Eu procurei por Mike porque ele fez sucesso, tinha uma boa família, bons filhos, uma boa esposa, uma vida muito decente.

O ginásio MILO ficava na cave da casa de Mike. Toda a sua cave era um ginásio. Desde que eu conheci Mike, ele sabia que podia ser honesto comigo. Naquele primeiro telefonema, ele não conseguia acreditar que eu estava de saída da WWE. “Tu deves estar maluco!” disse ele. “Tu queres sair de um negócio certo, milhões de dólares garantidos durante dez anos, para que possas ir atrás de algo em que há uma probabilidade de talvez 50%de oportunidades de conseguires fazer a transição? Tu não jogas futebol americano desde a faculdade!”

Eu apreciei a honestidade dele.

Eu disse a Mike que estava sério. Eu tinha saltado do comboio e acabei tudo com a WWE. Eu queria perseguir esse objetivo, e iria dar tudo de mim. Mike aceitou tudo o que disse a ele, e ele disse que está 100% comigo. E ele provou que aquilo era verdade, porque apresentou-me a John Wolf, que era representante de alguns jogadores da NBA e da NFL, mas que agora estava fora dos negócios. Ele falou de mim a Ed Hitchcock.

Ed era um rapaz de Minnesota, um graduado da Universidade de Minnesota e agente desportivo.Eu gostei dele, e nós começamos a trabalhar imediatamente. Ed idealizou este plano de jogo. “Tu tens de ficar em forma para o futebol,” disse-me ele, “então nós precisamos de enviar-te ao Arizona o mais rápido possível. Lá há uma instalação chamada Athlete’s Performance, onde todos os jogadores de topo da NFL e todos os atletas de topo no mundo vão.”

Eu segui o conselho de Ed e fui para o sul. Quando eu lá cheguei, uma das primeiras pessoas que eu conheci foi umrapaz do centro-oeste chamado Luke Richesson. Ele cresceu na fronteira Kansas-Missouri, e era um dos treinadores. Luke fez um pouco de wrestling e jogou futebol americano na faculdade, mas faltava-lhe tamanho. Luke era mais do que feito para isso, entretanto,porque ele era como dinamite.

Hoje, Luke é o treinador físico do Jacksonville Jaguars, e também é o meu treinador e condicionador físico. Eu considero Luke um dos membros vitais do Team Death Clutch.

Quando fui para Phoenix, eu fiquei no Marriott por algum tempo, mas aquilo era algo que me trouxe velhas lembranças. Era como estar de volta ao negócio do wrestling que tinha acabado de escapar, a dormir num hotel todas as noites. Então eu aluguei um condomínio e comecei a entrar de cabeça no jogo.

Eu acordava todos os dias, tomava o café da manhã, e fazia tudo oque estava no programa de condicionamento de Luke. Toda a minha vida foi sobre exercitar o corpo.Entretanto, Rena ainda estava na estrada com a WWE,e ela estava a voar para Phoenix para ficar comigo. Não me agradava mais o facto de ela estar naquele ambiente. Eu já sabia que ela era a mulher com quem eu queria estar para o resto da minha vida, mas ela ainda não estava pronta para abandonar a sua carreira.

Creio que eu não posso culpar Rena por não ter saído quando eu saí. Nós não éramos casados, eu tinha acabado de me tornar desempregado, e as probabilidades para alguém que nunca jogou futebol americano na universidade entrar para o roster da NFL não eram boas. Mas nada disso impediu que eu tentasse fazê-la sair de lá.

Eu odiava quando Rena estava na estrada. Havia muita testosterona demais no negócio, e eu estava preocupado que algum imbecil pudesse fazer-lhe ou dizer-lhe algo.Mas Rena é uma mulher notável, e ela pode cuidar de si mesma.Ela finalmente deixou a WWE, mas não porque estavam a tratá-la de forma errada ou algo do género. Ela não fez isso porque a desrespeitaram. Ela saiu por mim. A minha esposa é uma mulher incrível.

Treinar para uma carreira de jogador de futebol americano que eu ainda não tinha conseguido era um pouco estranho para mim.A minha vida inteira era numa prisão, mas tudo estava a parecer bem. Eu estava a ficar em forma para o futebol americano, e os resultados dos meus exercícios estavam para além das expectativas para velocidade, força e agilidade. Em testes diretos, eu estava a deixar os atletas da NFL para trás, e eu estava a ser notado.

Eu estava a caminho do meu dia como um pro, onde as equipas estavam programadas para vir e me observarem a exercitar-me. Eu tinha programado fazer o meu treino de seis semanas,fazer o meu dia como um pro, depois voar para casa e ver a minha filha. Tudo estava a ir muito bem—até 19 de Abril de 2004.

Eu tinha deixado a minha moto na loja de customização “Crazy’s” de um amigo meu em Minneapolis. Era uma chopper Harley, e ele estava a modificar para torná-la numa moto intimidadora. Eu não conseguia pensar em mais nada. Eu devo ter gasto $70.000 naquela máquina.

Quando eu cheguei a casa, começou por ser um grande dia. Mya estava comigo e eu estava a brincar com ela no sofá. O meu velho colega de quarto da faculdade, Jesse Sabot, e o seu irmão estavam de visita, e o meu irmão estava a viver na minha cave. Eu gostava de ter todas estas boas pessoas à minha volta.

Então eu decidi ir pegar a minha moto e ver o que o Crazy tinha feito com ela.Eu estava maravilhado. Eu era o Rei das Estradas naquela coisa.

Eu saí a rasgar pelo estacionamento do Crazy no centro de Minneapolis e fui para casa. Toda a minha agenda para a semana consistia em relaxar, recuperar da semana de treinos e passar o resto do tempo com Mya. Uma bela viagem de moto num belo dia parecia a melhor prescrição para mim.

Jesse e o seu irmão, o meu irmão e o resto do pessoal vieram ver a minha moto, e eles estavam a seguir-me até à casa.Quando eu estava a exibir-me enquanto deixávamos o estacionamento, o pneu traseiro deu um impulso, e eu percebi que algo muito sério estava a acontecer com a moto.

Eu passei direto pela intersecção, e vi que a luz estava a mudar de vermelho para verde, enquanto eu acelerava pela rua.Bem à frente eu vi este carro, e parecia que ele iria seguir sempre em frente, e havia uma carrinha à frente do carro, que iria fazer a curva na faixa na minha frente. Eu planeei ficar atrás da carrinha e fazer a mesma manobra. Mas assim de repente, a mulher que estava a conduzir a mini-carrinha que quase me matou decidiu cortar a minha frente e tirar-me da curva, o que me deixou sem ter para onde ir. Ela estava mesmo ao pé de mim e ao aproximar, a carrinha estava à minha frente a bloquear a curva, havia muito trânsito na outra direção, e havia trânsito atrás de mim. Eu não tinha para onde ir, e quando eu acionei os travões, não ajudou em muita coisa.Parecia que tudo estava a acontecer em câmera lenta.Eu estava a mais de 70 km em uma via de 40 km. No momento em que eu atingi a carrinha, eu consegui diminuir para apenas 60 km.

Eu fui de cara contra a mini-carrinha e depois para cima da mini-carrinha. A minha moto foi por baixo. Dividiu-se em três pedaços.

Após eu cair no chão e parar de girar, eu fiquei de pé e fui para o passei. Eu estava cheio de adrenalina, e estava a pensar em como eu tive sorte. Eu recordo-me de sentir uma dor aguda na minha área abdominal quando eu atingi a carrinha, mas eu não fazia ideia de que eu teria deslocado o queixo, além de oito ossos na minha mão esquerda. Eu também não sabia que aquela dor aguda que eu senti eram os meus músculos da virilha a deslocarem-se dos ossos. A dor não tinha começado até que a ambulância e os polícias chegaram. Eu descobri depois que os guiadores da minha moto tinham atingido o osso púbico a 60 km.

O meu irmão estava a dizer aos médicos, “Ele está bem, está tudo ok!,” mas assim que eu me sentei, descobri que não tinha apenas destruído a minha moto, eu tinha destruído o meu corpo também. Ainda assim, eu não quis entrar na ambulância para ir ao hospital, portanto Jesse levou-me até lá.

Eles disseram-me no hospital que não estava a sangrar internamente, mas eles fizeram uma lista das lesões que eu realmente tive. Queixo deslocado. Mão esquerda fraturada. Pelvis lesionado. Magoei a minha virilha tão severamente, que é doloroso para mim até mesmo listá-lo aqui seis anos depois. Eu tinha passado por seis ou sete semanas no Athlete’s Performance para estar no topo da minha condição física. Eu estava com 135 kg, a fazer um treino de peso de alto impacto. Eu estraguei tudo em cerca de três segundos.

A primeira chamada que fiz foi para Luke, e depois para o meu agente de futebol americano.

A única coisa que me manteve inteiro foi o fato de que o meu corpo era bastante rígido.Aquele treino de peso que fiz com Luke salvou a minha vida. Eu ainda consigo falar porque, mesmo eu tendo deslocado o queixo, eu recusei a imobilizá-la. A minha mão estava engessada, o que poderia parar o meu progresso, mas a pior coisa era a minha lesão na virilha. Aquilo iria demorar muito para se curar. Não há uma previsão para isso, não é uma recuperação rápida.

Se eu tinha alguma esperança de fazer parte do roster da NFL, e o mais importante, se eu estava a fugir da WWE, eu sabia que só tinha uma escolha. Lesionado ou não, eu tinha que treinar.

Eu estava muito feliz com o meu progresso no ginásio antes do acidente. Eu estava a levantar halteres de 180 kg, sessões de oito; agachamentos com 400 kg; e mesmo que eu estivesse a pesar quase 136 kg, eu fazia 4.67 segundos em corridas de 40 metros. Aquela era quase a velocidade de um running-back. Eu tinha olheiros da NFL interessados em mim.

Mas agora, com o meu dia como pro a ocorrer daqui por duas semanas apenas, eu estava todo quebrado. Eu acho que talvez Deus quisesse que eu diminuísse o meu ritmo. Eu tinha acabado de sair do pro wrestling, o que eu pensei ter sido algo esperto; mas então eu saltei da minha chopper e parti como se não houvesse amanhã, o que foi algo muito burro da minha parte. Sim, eu queria ser um jogador de futebol americano. Primeiro, eu preciso ter tudo numa perspectiva. Era a altura para eu procurar coisas mais importantes na vida.

Eu regressei a Phoenix e comecei o treino de recuperação. Muita reabilitação— trabalho de massagem, levantamento de pesos, todo o tipo de exercício.

Eu não podia fazer nenhum movimento direcional porque eu quase não conseguia andar por causa da minha virilha. Eu estava com tanta dor que eu nem sequer conseguia correr numa linha reta. Nada de dia como pro para mim.

Três semanas passaram, e o meu peso e os meus números começaram a aumentar, embora a minha virilha estava a curar-se mais lentamente do que eu gostaria. Mas assim que eu pensei ter perdido a minha oportunidade no futebol americano, os Minnesota Vikings telefonam-me.Eles queriam que eu trabalhasse com eles.De jeito nenhum eu iria deixar essa oportunidade passar.



Eu fui direto com os Vikings, e falei-lhes sobre o meu acidente. Quando eu treinei com eles, eu percebi que podia fazer muito melhor se não me tivesse aleijado, e eles decidiram dar-me mais um mês para recuperar, e então eu iria ser avaliado novamente no campo de treinos. As minhas lesões eram tão severas que não tinha como passar oito semanas no acampamento e treinos da NFL, mas o Luke realmente ajudou para que ficasse na melhor forma física que eu pudesse estar, considerando tudo o que me aconteceu.

Assim que eu cheguei ao acampamento de treinos, eu tinha voltado ao Vicodin e aos anti-inflamatórios. Não me orgulho disso, mas é a verdade, e eu não irei amenizar ou escrever porcarias neste livro. Eu passei pelo acampamento de treinos, e eu era provavelmente três quartos do homem que eu costumava ser, talvez menos do que isso. Talvez eu fosse apenas metade do homem que eu costumava ser—mas eu fui apenas o último a ser cortado.

Eu estava orgulhoso de mim mesmo. Haviam pessoas lá que treinaram durante toda a sua vida para estar na NFL, e alguns que foram estrelas nas suas equipas da universidade, e ainda assim foram cortados. Eu joguei um pouco na faculdade, saltei para dentro e para fora da WWE, trabalhei com Luke por algumas semanas, demoli a minha moto, estava magoado por todo o sítio e quase consegui chegar lá.

Eu sei que algumas pessoas não acreditaram na época, mas ser cortado não foi algo que me importou muito. Eu nunca acreditei ser um jogador de futebol americano e apenas estava a tentar fazer qualquer coisa que não fosse pro wrestling. Eu apenas queria mudar tudo na minha vida. Eu cheguei bem longe durante o meu pequeno envolvimento com a NFL, mas quando isso não funcionou para mim, eu tinha que encarar o fato de que estava desempregado,e tinha uma cláusula de não-competição de que eu não poderia ser associado com ou aparecer numa organização de wrestling em todo o mundo. Exceto, é claro, a que era de propriedade de Vince McMahon.

Eu engoli o meu orgulho e pedi para David Olsen entrar em contato com a WWE para mim. Ele disse que Vince não me queria de volta.


Traduzido por: Kleber (nWo4Life)

Adaptado por: FaBiNhO

No próximo capítulo: Brock Lesnar nos contará sobre a espada em sua garganta! Se você perder o próximo capítulo, ganhará uma passagem só de ida para Suplex City!
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