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Literatura Wrestling | Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 1



Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!




Capítulo 1: O Início
Terça-Feira, 1 de Abril, 2014 - 10:06

Esta era uma vista que ninguém devia ter visto. Fosse a fortuna ou o design burocrático do bronze da WWE, todos os sinais apontavam para que o WWE Superstar Daniel Bryan surgisse na Wrestlemania 30 num combate memoravelmente competitivo, porém numa posição bem menor no alinhamento, do que o evento principal final pelo WWE World Heavyweight Championship. Ele teria sido um candidato a "show-stealer" mas não estaria posicionado a fazer história, apenas um intermediário a meio do espectáculo, a apitar nos radares dos fãs pelo mundo fora durante a trigésima edição do mais grandioso evento da WWE.

Em vez disso, Bryan emerge de um carro privado estacionado na "boca" do Hard Rock Cafe da cidade de Nova Iorque. Ele está prestes a fazer uma grande entrada, não só para a conferência de imprensa desta manhã, mas para aquela que seria a mais significativa semana da sua carreira.

Aquela barba de assinatura é inconfundível, apesar do fato claro que usa - uma raridade - se sentir apenas ligeiramente "Bryanizado" pelo tom da sua cintilante gravata marrom. Os flashes das câmaras e membros da imprensa apertam-se para capturar um modesto ex-vegano de 1.73m, que muito rapidamente agita uma reacção de apoio de uma plateia da "Big Apple" notoriamente opinativa.

"Yes! Yes! Yes!" Uma simples, directa e contagiante combinação de palavras serve como tema de entrada para Bryan enquanto ele atravessa a passadeira vermelha e pára sob um letreiro a radiar "WRESTLEMANIA 30" no brilho dos seus LEDs. Os cânticos de "Yes!" sincronizados abafam o trânsito de fim de manhã de Manhattan, no Times Square, e Bryan junta-se à multidão para um breve e improvisado comício, por assim dizer.

Neste momento, Bryan encontra-se a uma mera dúzia de quarteirões do sítio da inaugural Wrestlemania que emanou do mundialmente famoso Madison Square Garden há quase três décadas atrás. Na altura, o primeiro grande evento de Vince McMahon era o simbólico "underdog" a tentar enterrar os dentes na cultura popular e criar um fenómeno mundial. É adequado que a própria jornada de quinze anos de Daniel Bryan até ao evento principal do "Show of Shows", Wrestlemania, faça esta tão importante paragem no coração de Nova Iorque.

Bryan já moldou parte das suas memórias nesta metrópole, no entanto este dia é diferente. Este é o início de uma semana que quiçá nem ele acreditasse vir a vivê-la. Na sua "Road to Wrestlemania", este momento marca os passos finais em direcção ao seu derradeiro destino: o combate pelo WWE World Heavyweight Championship na maior Wrestlemania de sempre.

Há o "ring" (ringue) no qual ele competirá e depois há as visões persistentes do "ring" (anel) que ele deslizará pelo dedo da sua noiva dentro de onze dias. Bryan está a experienciar o momento mais significativo da sua vida profissional, mas na sua vida pessoal, ele está a meio de preparações do casamento com a Diva da WWE Brie Bella. Um casal amado aos olhos dos fãs em adoração pelo globo fora, "Braniel" ainda negoceiam atribuições de tarefas para a sua celebração nupcial enquanto se preparam para competir no "Show dos Shows" da WWE. Não pode haver mês - semana, mesmo - mais significativo que este, se fores o "filho barbudo" de Aberdeen, Washington.

No caso de Bryan, em meros dias, trinta anos de Wrestlemania culminam em simultâneo com um "círculo quadrado", um Manifesto do Destino, um "Yes! Movement". Naquele dia, um conto de fadas desenrola-se para Daniel Bryan, e a tal "Cara da WWE" encaminha-se para se tornar um pouco mais cabeluda.


A WWE pediu, recentemente, a muitas das suas Superstars de sucesso que participassem num inventário de personalidade. Em teoria, estes testes são capazes de aceder a qualidades pessoais como sociabilidade, prudência e sensitividade interpessoal. A ideia é que diferentes profissões requerem diferentes características pessoais, mas este tipo de análise nunca tinha sido feita com wrestlers profissionais. Se a WWE pudesse descobrir os traços de personalidade das suas Superstars de maior sucesso, talvez quando fossem a recrutar, dar-lhes-ia mais informação sobre a probabilidade de uma nova contratação vir a ter sucesso. Eu fui uma das muitas pessoas escolhidas para fazer o teste.

O teste envolvia ler muitas afirmações diferentes e a seguir indicar se a afirmação era verdadeira ou falsa. Por exemplo, uma afirmação seria "Eu queria ser um condutor de carros de corrida profissional." A minha resposta: "Falso. Eu não queria ser um condutor de carros de corrida profissional." Outro exemplo: "Eu raramente perco a paciência." A minha resposta: "Verdadeiro." Coisas dessas. Respondes a centenas desse tipo de afirmações e voilá! Lá estão os traços da tua personalidade. Em teoria.

Eu por acaso gostei de fazer o teste e estava interessado em ouvir os resultados. No dia seguinte encontrei-me com uma mulher para falar sobre eles. Tudo foi feito à base de percentis e, à medida que ela avançava nos resultados, ela tornava-se cada vez mais confusa. Em todos os marcadores primários excepto um (abordagem à aprendizagem, pelo qual estava no 84º percentil), tive nota baixa. E afirmo-o, muito baixa. Pela sensibilidade interpessoal, eu estava no 11º percentil inferior. Pela categoria de ajustamento e adaptação, estava no 9º percentil inferior. Sociabilidade, 3º inferior. Mas aquele que mais a intrigou foi a minha pontuação para a ambição, que foi o mais baixo que ela já tinha visto na sua história de administrar este tipo de testes e dados. Eu estava no último percentil.

Ela perguntou-me como é que eu conseguira ter tanto sucesso, visto que eu não aparentava ter qualquer direcção, poucos dotes sociais e uma apatia inerente em relação à maioria das ideias que a nossa cultura de negócio moderna parece achar tão importante.

"Não faço ideia," disse eu. "Eu apenas amo lutar. O meu sucesso veio, maioritariamente, por sorte."

A minha "falta de ambição" deve ter feito parte da minha personalidade desde o meu começo, porque fiquei dentro do útero por mais de dez meses.

Quando a minha mulher, Bri, ouviu a história, disse que isso me explicava perfeitamente. Ela podia muito bem imaginar-me completamente satisfeito com apenas estar lá sentado com um cordão umbilical a servir de tubo para me alimentar, a ser constantemente alimentado e aquecido, a nunca querer sair. Quando finalmente induziram a minha mãe, dá para imaginar o quão doloroso terá sido.

A minha mãe, Betty, era uma mulher pequena e quando eu, Bryan Lloyd Danielson, finalmente decidi sair no dia 22 de Maio de 1981, eu tinha mais de 4,5kg. Olhando atrás, pelas fotografias, sou o bebé mais gordo que alguma vez vi. Mais importante, eu parecia estar sempre a sorrir. Não é preciso muito para me fazer feliz.


A minha mãe disse-me que eu era muito calado. Passava muito tempo sozinho porque não era muito social, algo essencialmente igual aos dias de hoje. O meu pai, Donald "Buddy" Danielson, lembra-se de mim como sendo descontraído mas também com um lado bastante teimoso. O exemplo mais consistente do meu pai envolvia biscoitos, que podia bem ser o meu grupo alimentar favorito. Ele falava sempre sobre uma vez em que estava a alcançar um biscoito e ele disse-me que não. Tentei outra vez e o meu pai esbofeteou-me a mão e disse outra vez que não. Eu comecei a chorar mas continuei a tentar alcançar o biscoito. A cada vez, o meu pai dava um leve estalo na minha mão e a cada vez eu choraria com mais força, a incessantemente tentar chegar ao biscoito. A contar a história, ele uivava de riso mas nunca disse se eventualmente me deu o biscoito.

Como uma jovem criança, eu tinha a tendência a seguir a minha irmã mais velha, Billie Sue, para todo o lado. A nossa relação ao crescer é provalmente a razão para que, mesmo hoje, ela se mantenha tão afectiva e protectora para comigo. A Billie Sue era - e ainda é - muito mais social do que eu. Eu apenas a seguia, feliz e sorridente como uma ostra aberta, e ouvia tudo o que ela dizia. Eu apanhava tudo o que ela fazia. Por exemplo, quando comecei a aprender a falar, eu não gaguejava, mas a minha irmã sim. À medida que fui falando cada vez mais, comecei a gaguejar também. A Billie Sue superou o seu problema de fala bem antes que eu, que provavelmente não aconteceu até eu ter quase doze anos.


No próximo capítulo: Na próxima semana chega o segundo capítulo, no qual Daniel Bryan volta atrás no tempo e fala de um problema seu com o qual muitos se identificarão: a timidez, ansiedade social e medo de falar em público! Como adaptar essas dificuldades à vida de WWE Superstar?

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